Barragem de Mariana tinha rachadura antes de romper, diz auditor da BHP
Confissão no julgamento de Londres contradiz o argumento da mineradora, que alega não saber que a estabilidade da construção estava comprometida
Um auditor de risco da mineradora BHP admitiu que sabia da existência de rachaduras na Barragem de Fundão um ano antes de seu rompimento. A admissão ocorreu durante um julgamento no Tribunal Superior de Londres, que está avaliando a responsabilidade da mineradora anglo-australiana pelo colapso da barragem de Mariana em novembro de 2015.
Em seu depoimento como testemunha no tribunal de Londres, Max Wetzig, então auditor de risco da BHP, não havia mencionado que estava ciente de um incidente grave que revelou o aparecimento de rachaduras no recuo da barragem em 2014. Esse depoimento é conhecido como “witness statement” e é dado antes do início do julgamento, por escrito.
A admissão de Wetzig durante o interrogatório coloca em xeque o argumento da BHP de que a empresa não tinha conhecimento de que a estabilidade da barragem estava comprometida.
“Eu tinha conhecimento de que havia ocorrido um incidente grave e devo acrescentar que busquei informações em relação à resolução ou às ações tomadas pela Samarco em relação a esse incidente”, afirmou Wetzig, referindo-se ao surgimento de rachaduras na barragem de Fundão em agosto de 2014.
O engenheiro admitiu que não se lembrava de ter recebido uma análise de estabilidade em relação ao incidente, mas disse que os estudos deveriam ter sido encaminhados pelo departamento de Minério de Ferro da BHP Brasil para o banco de dados utilizado pela auditoria.
Após o caso das rachaduras, Wetzig argumentou que recebeu um estudo – assinado pelo auditor independente Dr. Vinod Garga e endereçado a um comitê da Samarco – que dizia que as recomendações feitas pelo Conselho Independente de Avaliação de Barragens de Rejeitos (Independent Tailings Review Board – ITRB) para melhorar a segurança da barragem de Fundão haviam sido implementadas.
O julgamento de responsabilidade do Caso Inglês Mariana completou um mês nesta quinta-feira, 21. O rompimento da barragem de Fundão liberou mais de 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração no meio ambiente. O tsunami de lama tóxica dizimou duas comunidades próximas à barragem, matou 19 pessoas, causou a perda de um bebê em gestação e poluiu mais de 700 quilômetros do rio Doce até chegar ao Oceano Atlântico, causando o maior desastre ambiental da história do Brasil.
Diretor da BHP no banco dos réus
Nesta semana, o julgamento terá audiências e depoimentos importantes para o caso. Na quarta-feira, 27, haverá uma audiência na Corte de Londres para discutir sobre a representação dos municípios brasileiros na ação inglesa.
Estarão presentes 12 representantes de cidades afetadas pelo rompimento, incluindo prefeitos atuais e eleitos em outubro. Já nos dias 28 e 29, a corte inglesa ouvirá o depoimento de Peter Beaven, Diretor Financeiro do Grupo BHP entre os anos de 2014 e 2021.