Avanço da mineração ilegal na Venezuela chega às fronteiras brasileiras
Após a ONU denunciar violações no Arco Mineiro, a Polícia Federal deflagrou operação contra o comércio clandestino de ouro vindo do país vizinho

O alerta sobre a mineração ilegal no Arco Mineiro da Venezuela, já na mira da comunidade internacional, chegou também ao Brasil. A proliferação de garimpos irregulares tem gerado pressão na fronteira com Roraima, onde a Polícia Federal (PF) deflagrou nesta quinta-feira, 6, uma operação para combater o contrabando de ouro. Segundo a ONG SOS Orinoco, são 646 focos mineiros ilegais ao sul do Orinoco, abrangendo 47,7 mil hectares. Além das ameaças à segurança local, a região acumula denúncias de violações ambientais e humanitárias.
A Operação Zósimo, da PF, teve como objetivo cumprir 11 mandados de busca e apreensão, em Roraima, Rio Grande do Norte e São Paulo. Também foi determinado o bloqueio de mais de R$ 1,3 milhão das pessoas investigadas. As apurações começaram em 2018, quando um homem foi flagrado tentando embarcar em um avião com 3 kg de ouro e documentos falsos. A partir da pista, a PF identificou uma organização criminosa especializada na compra de ouro contrabandeado de garimpos ilegais da Venezuela.
A maior parte desse ouro sai do Arco Mineiro, uma região ao sul do Rio Orinoco rica em recursos minerais. Com área de 112 mil km², o local tem sofrido crescentes pressões desde 2016, quando o regime de Nicolás Maduro se voltou para o extrativismo mineiro como forma de enfrentar a crise econômica nacional. Desde então, as denúncias de transgressões ambientais e violações aos direitos humanos no território aumentaram vertiginosamente. Em junho, a Organização das Nações Unidas (ONU) publicou um relatório apontando casos de corrupção, violência, exploração infantil e prostituição.
Segundo o deputado venezuelano Américo de Grazia, exilado na Espanha, a estimativa é que cerca de 30 mil toneladas de ouro sejam contrabandeadas por ano para fora da Venezuela, passando por Brasil e Colômbia. O dinheiro da mineração ilegal é usado para sustentar o regime venezuelano, inclusive comprando mantimentos brasileiros.
O parlamentar explica, ainda, que a extração de ouro tem intensificado a entrada em todo o território de grupos terroristas, como o Exército de Libertação Nacional (ELN) e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o que traz riscos ainda mais graves para a segurança da região. “Tudo que ocorre no Arco Mineiro tem a autorização da narcoditadura de Nicolás Maduro”, afirmou Grazia.
Em abril deste ano, o Parlamento venezuelano responsabilizou Maduro pela extração ilegal de ouro nos estados de Delta Amacuro, Bolívar e Amazonas e declarou o produto extraído na região do Arco Mineiro como “ouro de sangue”.
Segundo a embaixadora da Venezuela no Brasil, María Teresa Belandria, a cooperação brasileira é fundamental para que o combate à mineração irregular seja efetivo. “O acordo da Assembleia Nacional constitui um passo importante para frear o comércio ilícito e o reconhecimento desse acordo por parte do Brasil é uma prova do trabalho coordenado entre os dois governos”, destacou.