A vitória que Hugo Motta entregou a Lula
… sob a sombra de Arthur Lira. Presidente da Câmara, antes visto como problema para o Planalto, agora entrega projeto com projeção direta sobre 2026

A aprovação da ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para até R$ 5 mil mensais marca grande vitória legislativa do terceiro mandato de Lula, com impacto direto no bolso da classe média, ao mesmo tempo em que inaugura um novo papel para Hugo Motta (Republicanos-PB) na relação com o Palácio do Planalto.
Até aqui, o paraibano vinha acumulando desgastes: sofreu críticas por conduções erráticas e tropeços na articulação, além do distanciamento do núcleo político do governo.
Todavia, ao viabilizar a votação, com apoio consolidado, reposicionou-se: não mais um obstáculo, mas agora um facilitador – ainda que a engrenagem por trás da vitória tenha nome, sobrenome e articulação própria: Arthur Lira (PP-AL).
Relator da proposta, o ex-presidente da Casa manteve o controle sobre o conteúdo, conduziu as negociações e foi o principal fiador da costura política. A Lira coube garantir que a proposta traria compensações fiscais. A Motta coube presidir a sessão e colher os louros de um texto já encaminhado.
A frase escolhida por Motta para marcar o momento parece sob medida para o novo momento: “Esta é a prova de que, com liderança firme, responsabilidade e capacidade de articulação, o Congresso Nacional é capaz de promover mudanças que impactam positivamente a vida de todos. A Câmara dos Deputados mostra mais uma vez que é amiga do povo.”
A verdade, no entanto, é que Motta ainda depende do lastro de Lira para exercer influência real, posto que sua movimentação, embora relevante, ocorre em terreno já demarcado. Entregar o que já estava costurado não equivale a construir a vitória; mas é um começo. Na política, às vezes basta estar no lugar certo, na hora certa, dizendo a frase certa – e torcer para que não perguntem quem escreveu o roteiro.