Faltando oito dias para o fim de seu mandato, o presidente Jair Bolsonaro assinou um decreto concedendo indulto de Natal a alguns presos ligados à segurança e às Forças Armadas.
Enquanto permanece em silêncio e praticamente sem trabalhar desde a derrota para Lula, o presidente descumpre uma das promessas que fez em 2018, depois de vencer a eleição.
Em novembro de 2018, no Twitter, Bolsonaro escreveu que pegaria pesado na questão da violência e afirmou que aquele ano seria o último com concessão de indulto a criminosos.
“Fui escolhido presidente do Brasil para atender aos anseios do povo brasileiro. Pegar pesado na questão da violência e criminalidade foi um dos nossos principais compromissos de campanha. Garanto a vocês, se houver indulto para criminosos neste ano, certamente será o último”, escreveu.
O indulto concedido nesta sexta, 23, atinge principalmente agentes de segurança pública condenados por crimes culposos (sem a intenção de cometer), policiais condenados por crimes praticados há mais de 30 anos e militares condenados em casos de excesso culposo durante atuação em operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).
A decisão deixa claro o que Bolsonaro e a extrema direita pensam sobre criminosos: aqueles que cometem crimes em nome do Estado, como na época da ditadura, não são considerados assim.
Além disso, o indulto abre uma possibilidade perigosa: a de conceder perdão aos policiais envolvidos no massacre do Carandiru. A questão ainda deve ser discutida na Justiça, mas a brecha foi aberta pelo presidente.
Atualmente, 69 policiais estão condenados pelo assassinato de 77 detentos no massacre que aconteceu em 1992. O indulto concede perdão a crimes cometidos há mais de 30 anos e que não eram considerados hediondos na época. Como o crime de homicídio só foi considerado hediondo em 1994, pode ser que os agentes tenham suas penas extintas.
No apagar das luzes, Bolsonaro mostra que não importa o crime, mas quem comete. Eleito com o discurso de tolerância zero com criminosos, o presidente mostra, mais uma vez, que não passa de um mentiroso.