Se a política econômica do governo Lula fosse uma maratona, Fernando Haddad estaria perdendo força após correr os primeiros 15 quilômetros da corrida de forma surpreendente e exemplar.
O político, que foi prefeito de São Paulo e candidato a presidente em 2018 no lugar de Lula, hoje vê as vitórias que vinha conseguindo no primeiro ano como ministro da Fazenda serem sobrepostas por pressões políticas de todos os tipos. Até as do PT.
Nesta segunda, 15, Haddad anunciou o que não queria: a mudança da meta fiscal deste ano e dos dois próximos até o final do governo Lula, diminuindo o objetivo de superávit primário. O que antes seria terminar a terceira gestão Lula com um superávit de 1%, agora será de apenas 0,25%.
De forma veemente, Haddad defendeu, dentro do governo, a tese de que era preciso sanar as mazelas das contas públicas brasileiras. Mas perdeu em parte. Não conseguiu vencer o grupo que queria um espaço maior para gastar, seja por causa dos problemas de popularidade do governo, seja pelo crescimento da direita ou pelas políticas sociais.
A ala vencedora acreditava que até a meta da inflação era exagerada, enquanto o ministro da Fazenda batia o pé dizendo que a política social precisa ser feita a partir de uma inflação sob controle.
Essa parte Haddad conseguiu. A inflação está baixa e controlada, mas a solidão do ministro da Fazenda permanece porque ele tem críticas dentro do governo, no Congresso e até fora de Brasília.
No mercado, por exemplo, dizem agora que ele está cedendo, desidratando seu próprio arcabouço fiscal. No Congresso Nacional, acham que já fizeram muito pela gestão dele na Fazenda e querem agora aprovar políticas que interessem a eles – a maioria com mais gastos.
E no governo? No governo é isso que já expliquei algumas vezes neste espaço – o fogo amigo. A verdade é que Haddad tem que convencer o próprio governo, convencer o Congresso e convencer o mercado.
Isso porque todos se comportam como se a meta fiscal ou o arcabouço fosse do ministro Fernando Haddad e não do país.
PS – Nesta terça, 16, o dólar disparou. Em parte por questões internacionais e geopolíticas, mas também pela sensação de que o ministro da Fazenda está perdendo força na corrida, e o governo pode fazer novas concessões fiscais.