
Todo governo tem uma marca. No dia em que completa mil dias à frente da Presidência da República, Jair Bolsonaro vai tentar emplacar uma mensagem positiva, de grandes feitos e conquistas. Aliás, tem programação extensa nos próximos dias. Mas a verdade é que a atual gestão já tem uma marca: é um construtor de crises.
O Brasil tem hoje um presidente criador de crises diárias que já se indispôs com o Congresso, com o Supremo Tribunal Federal (STF), com a imprensa, com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com integrantes do seu próprio governo, com dirigentes de estatais. São tantos conflitos que fica difícil fazer as contas. Qualquer lista ficará incompleta.
A estratégia de comunicação de Bolsonaro é estar sempre sendo lembrado e, por isso, ele produz polêmicas e fala absurdos frequentemente. A tática, no entanto, produziu efeito contrário e os brasileiros começaram a procurar pelo desempenho do presidente e o que encontraram é desanimador.
O desempenho está nas quase 600 mil mortes causadas pelo coronavírus, na inflação crescente que já chega a quase 10%, na alta dos juros, no desemprego recorde, na expectativa de que a economia fique estagnada em 2022 e, principalmente, no alto índice de reprovação do presidente.
As pesquisas mostram que mais da metade do país está insatisfeita com a forma como Bolsonaro governa. O número é expressivo e tem grande peso nas eleições de 2022 tanto para o presidente como para seus rivais.
Quem conheceu Bolsonaro como deputado já esperava essa postura na presidência. Enquanto esteve na Câmara, não propôs nenhum projeto, não aprovou propostas e não soube fazer política construindo pontes com seus colegas parlamentares. Em vez disso, atacou e ofendeu em diversas ocasiões aqueles que estavam nas cadeiras ao seu lado.
Ao dizer que a marca do governo é a crise, esta coluna não está emitindo um juízo de valor pessoal. É uma constatação. Sempre que uma gestão completa um ciclo, é comum que os jornais façam gráficos com acontecimentos marcantes do período. No caso do atual governo, os momentos marcantes, infelizmente, foram de crises – uma atrás da outra.
Mais uma vez, após mil dias de gestão, permanece a esperança de que Bolsonaro adote uma postura mais moderada. Como visto na entrevista dada à Veja na última semana, um tom de conciliação e de “apagar incêndios” é muito mais produtivo para o país do que a produção de crises o tempo todo.