O PL acredita que voltará ao poder se apostar nos próximos quatro anos em Michelle Bolsonaro, a ex-primeira-dama que vê as mulheres como “joias”. Ela tem qualidades eleitorais, por falar bem e possuir forte conexão com o mundo evangélico.
A grande dúvida é se isso será o suficiente para levar uma neófita na política para voos mais altos. Nesta terça, 21, Michelle Bolsonaro chegou à instalação do PL Mulher com pompas e circunstâncias, mas sem qualquer resposta para o caso das joias sauditas, que têm um valor tão exorbitante – e é um caso tão escabroso – que ela precisará dar explicações convincentes.
Não bastará a ex-primeira-dama fazer ironias, deboches e indiretas. Isso serve para um público que estava lá para aplaudi-la. Michelle terá que provar, na investigação, que nada sabia sobre os escandalosos R$16,5 milhões em pedras preciosas.
Para isso, será obrigada a dizer que ex-ministro Bento Albuquerque mentiu na alfândega. E que o seu marido, Jair, escondeu dela as insistentes vezes em que, através do seu ajudante de ordens e usando o aparato do estado, tentou reaver o extravagante colar de brilhantes e as outras peças de uma das mais cobiçadas joalherias do mundo.
Há outras passagens nebulosas na vida de Michelle que podem ser exploradas.
Se ela entrar de fato no jogo político, terá que dizer mais do que os tweets preparados para ela pelo ex-secretário de comunicação Fábio Wajngarten.
Por exemplo: precisará superar as desavenças com Carlos Bolsonaro, o problemático filho do meio do ex-presidente da República. No lançamento do PL Mulher, os outros dois filhos estavam lá, Flávio e Eduardo. Mas não é segredo que ela e Carluxo não são amigos – nem na vida, nem nas redes.
Em que ela é forte? Na comunicação com o mundo evangélico. O difícil é a visão que ela tem da bíblia. De submissão da mulher, de “ajudadora” do marido como sempre diz. A luta diária de sobrevivência da mulher não tem qualquer aderência com essa ideia de que a função dela é ser adereço na vida dos homens.
O cálculo que o PL faz é simples: se der ruim, basta desembarcar do projeto que carrega o nome de Michelle. Se der certo, o partido continuará a ter um Bolsonaro (ou uma) para puxar a bancada.