O julgamento do primeiro acusado do 8 de Janeiro – ou o número 1 dos 1.390 golpistas denunciados pelo Ministério Público – já expôs a irritação da maioria do Supremo com os dois ministros indicados por Jair Bolsonaro. Ao menos… no que diz respeito ao radicalismo da extrema direita brasileira.
Enquanto Alexandre de Moraes, hoje o mais proeminente magistrado da Corte, deu um esporro público em André Mendonça, Gilmar Mendes, o decano do tribunal, acabou por provocar Nunes Marques.
Os dois colegas de toga indicados no governo passado – Mendonça e Marques – foram os que mais tentaram aliviar a pena de Aécio Lúcio Costa Pereira, o condenado zero 1 da infame tentativa de golpe contra a democracia e a destruição da sede dos Três Poderes.
“Com todo o respeito, Vossa Excelência querer falar que a culpa do 8 de Janeiro é do ministro da Justiça. […] Vem ao plenário do STF, que foi destruído, para dizer que houve uma conspiração do governo contra o próprio governo? Tenha dó”, esbravejou Moraes.
É que André Mendonça havia dito que os delinquentes bolsonaristas “não agiram para tentar depor o governo” e levantou uma suspeita. “Há dúvidas razoáveis de saber como esse grupo entrou com tamanha facilidade, eu não digo no Supremo, não digo no Congresso, mas dentro do Palácio do Planalto. Onde estava todo o efetivo da Força Nacional? Hoje o Brasil não sabe”, acusou André Mendonça.
Gilmar Mendes também ficou irritado com os posicionamentos de Nunes Marques na sessão de ontem, e acabou fazendo como Alexandre de Moraes. “Vi essa consideração sobre o passeio no parque. Jamais houve passeio no parque. Não se tratava de passeio no parque, ministro Kassio [Nunes Marques]. Nem de um incidente. A cadeira que o senhor está sentado estava lá na rua, no dia da invasão”, suscitou o decano.
Aécio Lúcio Costa Pereira acabou condenado a 17 anos de prisão por crimes como dano qualificado, deterioração de patrimônio público tombado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e associação criminosa.
André Mendonça queria absolvê-lo da tentativa de golpe de Estado. Nunes Marques, livrá-lo da abolição violenta do Estado Democrático de Direito e de associação criminosa.
Segundo apurou a coluna, os votos acabaram por gerar desconforto interno na Corte por se assemelhar às narrativas bolsonaristas – teorias estapafúrdias de que o governo Lula estaria por trás de toda trama perpetrada pela extrema direita.
Luís Roberto Barroso, futuro presidente da Corte, foi o outro magistrado que votou pela absolvição – no caso, pelo crime de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Mas fez uma “defesa técnica e menos ideológica” sobre a sanha golpista do bolsonarismo.