A gafe que Lula cometeu contra a própria história
Ao errar novamente em fala de improviso, presidente faz injustiça com seus próprios governos
Como se não bastassem os problemas que Lula tem com sua base no Congresso, o presidente entrou em mais uma enrascada, no final da semana passada, ao falar de improviso em evento na Volkswagen em São Bernardo do Campo.
Desde que ele assumiu o mandato, isso já aconteceu algumas vezes.
O presidente já relacionou problemas de saúde mental com violência e disse ver algo positivo na escravidão. Agora, criou mais desconforto ao engrossar o coro de esteriótipos sobre negros e mulheres.
“Essa menina bonita que está aqui. Eu estava perguntando: o que faz essa moça sentada, que eu não ouvi ninguém falar o nome dela? Falei: ‘Ela é cantora. Não, não vai cantar. [Disseram que] não vai ter música’. Então ela vai batucar alguma coisa. Porque uma afrodescendente assim gosta de um batuque de um tambor. Também não é. Falei: ‘Nossa, então ela é namorada de alguém’. Também não é. O que é essa moça? Essa moça foi premiada ano que vem como a mais importante aprendiz dessa empresa e ganhou um prêmio na Alemanha”, disse Lula.
O Brasil sabe que os negros fizeram a mais importante contribuição para a MPB. O samba, o batuque são exemplos da herança africana, mas é errado achar que toda pessoa negra só tem essas qualidades.
Fato é que a sociedade brasileira é toda marcada pela discriminação e pela criação de estereótipos em relação aos indígenas, aos negros e às mulheres. Constantemente discriminados, podem ser prisioneiros desses estereótipos.
Quando o presidente faz a declaração acima, alimenta justamente isso.
Não tem nada de errado no ponto de que eles estão na raiz musical e cultural brasileira. Assim é o Brasil. Está chegando a semana do carnaval. E parte fundamental dessa música ritmada, que é a brasileira, veio de nossas raízes africanas. Evidentemente, não veio de Portugal, não é o Fado. Mas o negro e a mulher podem ser o que quiserem hoje. Essa é a questão.
Lula, aliás, tem contribuído, em todos os seus mandatos, para a ascensão social dos negros, para que eles cheguem a outras posições. Ao agir assim, o presidente é injusto até com a história dos governos dele – com políticas públicas eficientes que conseguiram aumentar e estimular o processo de ascensão social das pessoas negras.