A exceção no cenário dramático da população em situação de rua
João Pessoa mostra que as políticas públicas segmentadas fazem a diferença

Há diversos indicadores da falência das políticas públicas no Brasil, mas nenhum é tão eloquente quanto o aumento da população de rua – que ultrapassou 335 mil pessoas, segundo levantamento da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) divulgado nesta segunda-feira, 14. Trata-se de um crescimento de quase 2% em apenas dois meses.
O fenômeno não é localizado ou passageiro, embora invisível nas prioridades do Poder Público. Os dados da pesquisa representam a superfície de uma realidade brutal: 81% dos moradores de rua dispõem de menos de R$ 110 por mês. Cerca de 90% estão na fase mais produtiva da vida, entre 18 e 59 anos. Sete em cada dez são negros – e mais da metade não terminou o ensino fundamental.
Destituído de tudo, esse contingente não tem estatuto social, nem visibilidade política. A maior parte vive nas áreas urbanas do Sudeste – a região mais rica do país. São Paulo lidera, com 96 mil pessoas em situação de rua, seguida por Rio de Janeiro (21 mil), Belo Horizonte (14 mil), Fortaleza e Salvador (ambas com mais de 10 mil).
O estudo da UFMG revela, no entanto, que o caos não é inevitável – e a exceção mais significativa é a de João Pessoa, que contabilizou 953 pessoas em situação de rua: o menor número entre as capitais do Nordeste (0,11% da população).
A capital paraibana tem investido em ações intersetoriais, como o programa Ruartes, de abordagem social nas ruas, e os Centros de Referência Especializados para População em Situação de Rua (Centro Pop).
Ainda que o modelo possa ser aperfeiçoado, já serve, ao menos, para uma constatação: onde há política pública, o gargalo recua. Se um município com recursos limitados pode enfrentar o problema com racionalidade e coordenação, as maiores capitais do país deveriam seguir o mesmo caminho.