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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog

A espiritualidade perversa do Talibã

Teólogo Rodolfo Capler afirma que o grupo terrorista que retornou ao poder no Afeganistão é movido por um tipo de “religião do mal”

Por Rodolfo Capler
20 ago 2021, 10h33

Thomas Friedman, editor e colunista do The New York Times afirma que o problema do islamismo radical é a mudança climática. Já para Paul Krugman, ganhador do prêmio Nobel e que também escreve para o NYT, a causa da violência islâmica no Oriente Médio é o desemprego. 

Estes dois grandes jornalistas negam a existência do mal e por isso não conseguem compreender a natureza do radicalismo islâmico em sua totalidade. O radicalismo islâmico pode ser pensado, com base na filosofia de Santo Agostinho, como o mal em sua forma mais pura. 

Agostinho registra no Livro II de suas “Confissões”, que quando tinha 16 anos de vida, invadiu a propriedade de um de seus vizinhos para roubar peras. Conforme seu relato, o roubo das peras se deu não porque estivesse com fome ou por sentir-se de alguma maneira tentado a fazê-lo, mas simplesmente pela prática do “próprio mal em si”. O mal pelo mal para causar o mal, para ferir, para destruir… O mal que eleva a morte e a dor como forma de adoração a Deus é a fonte motivadora do radicalismo islâmico de grupos como o Talibã. 

No último domingo, dia 15, a mídia internacional noticiou a queda Cabul e o retorno do Talibã ao centro do poder no Afeganistão. Baseado numa interpretação distorcida do Alcorão o grupo terrorista que age em associação com AL-Qaeda, levantou armas nas ruas de Cabul proferindo a frase: “Allahu Akbar”. A máxima que significa “Alá seja engrandecido” é sagrada para o Islã, porém tem sido deturpada e utilizada como grito de guerra do terror. Este Alá – mal interpretado pelos radicais islâmicos -, que se engrandece com a violação de mulheres consideradas infiéis e com mortes aleatórias produzidas em massa em seu nome, se assemelha ao senhor das trevas em pessoa.

O já mencionado Agostinho de Hipona propõe em sua filosofia dois norteadores de comportamento que permitem a compreensão da espiritualidade humana; Deus e o diabo. Segundo Agostinho, o diabo personifica o mal, que é a distorção do propósito para a qual os seres humanos foram criados. A escolha pelo mal não nos chega de fora para dentro, pois o diabo não produz o mal humano. Conforme Agostinho o mal é a ausência do bem e vem de dentro do indivíduo. É gerado em cada um de nós pela decisão pessoal de escolher coisas inferiores em detrimento das mais elevadas. Seu ponto de partida, portanto, é a escolha individual. 

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Mas assim como o bem, o mal assume dimensões coletivas, metafísicas, espirituais. Portanto, não podemos negar que exista a espiritualidade do mal. Como uma tempestade de areia no deserto ela envolve populações inteiras, cinge maneiras de viver, culturas e religiões. Ela cega perspectivas, olhares, interpretações. A metafísica do mal escreve livros e tratados e pede dedicação e compromisso integral. Ela prende populações inteiras dentro de suas trevas impenetráveis. 

Uma visão para além do secularismo – que não admite espiritualidades de nenhuma forma a não ser as autoinduções e talvez a para-normalidade produzida pela força da mente humana -, é necessária para se compreender a natureza do radicalismo islâmico sustentado pelo Talibã. A cosmovisão de Friedman e Krugman, por exemplo, não tem espaço para o metafísico, para o compromisso com uma realidade que não seja palpável, para uma moral ditada pelo intangível, para o comportamento motivado por razões além do estômago e das necessidades físicas. Porém, todas essas “impossibilidades” são os componentes que movem a crença na religião. Sem entender esta parte integral da natureza humana é impossível captar o sentido do radicalismo religioso de grupos como o Talibã.

Ao contrário do que dizem alguns comentaristas políticos, o Afeganistão, em última instância, não caiu em ruína pela arrogância da política externa norte-americana, tampouco pela incapacidade de Joe Biden em formular uma organizada retirada das tropas americanas de solo afegão. O Afeganistão foi subjugado pelo mal do terror. Acometido pela nociva religião que é o “islamismo radical”. Foi defenestrado pela “espiritualidade do mal” que o próprio secularismo europeu tem dificuldade de reconhecer.

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* Rodolfo Capler é pesquisador, teólogo e escritor

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