
O triplo twist carpado do criminalista Cezar Bitencourt nas últimas horas pode vir a prejudicar não só seu cliente, o tenente-coronel Mauro Cid, mas também Jair Bolsonaro.
O advogado recuou do caminho que vinha trilhando desde quarta-feira, 16, e que culminou nas revelações feitas à VEJA de que seu cliente faria confissão de crimes obedecendo a ordens.
Esse ensaio de volta atrás pode alimentar a suspeita de interferência do ex-presidente ou de outras pessoas ligadas ao entorno do político na decisão de Mauro Cid. Se houver indícios fortes, isso, em tese, aumenta o risco de prisão de Bolsonaro.
Mas o fato é mesmo impressionante. O criminalista conseguiu um feito em Brasília. Disse à VEJA que haveria uma bombástica confissão relativa à venda de joias recebidas por Bolsonaro ao longo do mandato, implicando fortemente o ex-presidente.
Menos de 24 horas depois, Cezar Bitencourt começou a mudar sua própria versão. Ao jornal O Estado de S.Paulo, o advogado indicou um recuo e disse que a confissão não terá nada a ver com as joias. Depois, não satisfeito, voltou atrás novamente na GloboNews, dizendo se referir apenas ao imbróglio de uma delas, o relógio Rolex.
“Pelo que eu sei, (o dono) era o presidente. Isso não quer dizer que (Cid) tenha entregue o dinheiro direto para o presidente, pode ter sido para a primeira-dama”, afirmou o criminalista à jornalista Andréia Sadi.
A coluna procurou juristas e juízes que fizeram uma avaliação muito negativa desse comportamento do advogado. A ideia é que isso pode complicar a situação do Mauro Cid, o ex-faz-tudo de Bolsonaro, mas também a do próprio ex-presidente.
“Sinais trocados assim podem levar à suspeita de pressão de outra parte envolvida no processo ou mesmo combinação com outros investigados. Tudo isso, a depender das provas, pode levar, sim, ao uso da prisão preventiva como medida cautelar”, disse um deles à coluna.
Acuado, Jair Bolsonaro afirmou que Mauro Cid tinha autonomia. “Eu não ia mandar ninguém vender nada”, disse o líder da extrema direita, seguindo o caminho oposto ao de Mauro Cid, que jurou de pé junto que falaria à Justiça.
A Cid só cabe contar, de fato, que ordens recebeu. Se ficar em silêncio depois dessa declaração de Bolsonaro, ficará sozinho com a culpa.
É aí que mora o perigo.