A gota d’água para a subida de tom de Lula contra Israel
Presidente quer que Itamaraty aumente os esforços na ONU para conter a escalada da violência em Gaza
Lula tem manifestado repúdio ao aumento da ofensiva militar de Israel na Faixa de Gaza após o ataque do Hamas, no dia 7 de outubro. Depois de equiparar a resposta israelense aos ataques do grupo terrorista Hamas, o presidente voltou a falar nesta terça-feira sobre a posição de Israel no conflito, que já deixou 12400 mortos, no total.
“Essa guerra, do jeito que vai, não tem fim. Eu tô percebendo que Israel quer ocupar a Faixa de Gaza e expulsar os palestinos de lá. Isso não é correto, não é justo. Nós temos que garantir a criação do Estado Palestino para que eles possam viver em paz com o povo judeu”, disse Lula.
Um integrante do Itamaraty disse à coluna que a gota d’água para o posicionamento mais duro do presidente foi o último ataque ao hospital Al-Shifa, o maior de Gaza, no domingo (12) e, consequentemente, as mortes de crianças. Na região, mais de 4600 morreram desde o início da guerra. Israel também mantém o cerco à área com o corte de energia, água e combustível, o que torna a situação ainda mais crítica.
“— Porque eles [Israel] estão matando inocentes, sem nenhum critério. Jogar bomba onde tem crianças, onde tem hospital, sob pretexto de que um terrorista está lá, não tem explicação. Primeiro vamos salvar as crianças e as mulheres, aí depois faz a briga com quem quiser fazer” — declarou Lula.
Lula, inclusive, já teria orientado o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, a “turbinar” os esforços na ONU para tentar conter a escalada de violência na região. O Brasil quer tentar articular com os países não-membros do Conselho de Segurança uma resolução que vá nesse sentido. Além disso, pretende falar com o líder Chinês, Xi Jinping, atual presidente do órgão, sobre a situação em Gaza.
O presidente também já sinalizou que deve visitar o Catar e a Arábia Saudita, durante a viagem que fará para participar da Cúpula do Clima, a COP 28, em Dubai, nos Emirados Árabes, no fim deste mês. Lá, quer colocar em pauta essa discussão com os países árabes. Segundo um integrante do Itamaraty, o Brasil vê certa “passividade” dos países ocidentais em relação ao que tem acontecido em Gaza.
As declarações do presidente provocaram críticas da Confederação Israelita do Brasil, a Conib. Em nota, a organização disse que a comparação entre a ofensiva israelense e os ataques do Hamas “é equivocada e perigosa”.
“Além de equivocadas e injustas, falas como essa do presidente da República são também perigosas. Estimulam entre seus muitos seguidores uma visão distorcida e radicalizada do conflito, no momento em que os próprios órgãos de segurança do governo brasileiro atuam com competência para prender rede terrorista que planejava atentados contra judeus no Brasil”, diz a nota.