Usaremos ações do governo para alavancar o PT em 2024, diz Humberto Costa
Coordenador de grupo que prepara a estratégia do partido para eleições municipais diz que sigla espera se recuperar do ‘fundo do poço’ a que chegou em 2020
Após anos seguidos de resultados negativos nas disputas a prefeituras, o PT trabalha para reeditar os tempos de glória nas eleições de 2024. A edição de VEJA desta semana mostra como o pleito é estratégico para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e para a legenda, que espera se valer dos benefícios de comandar a máquina federal e impulsionar o desempenho nas urnas com programas sociais e outros investimentos da União.
A movimentação tem sido intensa no petismo na busca para tentar recuperar o terreno perdido. Em junho, o partido reativou o Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE), agora comandado pelo senador Humberto Costa (PE), encarregado de coordenar as estratégias e as articulações políticas. Além de realizar seminários estaduais, a força-tarefa se reúne a cada quinze dias para avaliar o andamento das negociações, tanto internas quanto com outras legendas.
Em entrevista a VEJA, o senador falou sobre os planos do partido para 2024. Leia abaixo:
O GTE está funcionando há pouco mais de quatro meses. Como têm sido os trabalhos? Fizemos primeiro a definição das prioridades e acompanhamento para os municípios de médio porte, que têm acima de 100.000 eleitores. Não chegam a 300 [municípios], mas representam uma parcela muito grande do eleitorado. Estamos com olhar especial para as capitais também. Nesse primeiro momento, no levantamento que temos feito, o PT tem condições de apresentar candidaturas próprias competitivas em doze ou treze capitais, o que não quer dizer que irá acontecer em todas. Há municípios, inclusive capitais, onde nós possivelmente iremos apoiar outros partidos, mas na condição de o PT exercer o protagonismo, formando a chapa. Agora estamos partindo para a discussão em relação aos municípios de médio porte, e esperamos que o partido também lance um número expressivo de candidaturas em cidades com essa configuração.
Já há um mapeamento das prefeituras a serem disputadas? Não temos ainda esse desenho inteiramente feito, até porque estamos em fase de ouvir os estados, as suas prioridades, os seus diagnósticos. Estamos terminando de ouvir os 26 estados. No meio do ano, o partido realizou seminários estaduais para discutir as eleições. Depois, começamos a fazer as reuniões do GTE com os estados. E agora estamos na fase das plenárias municipais. A orientação nacional é que, até o final de novembro, quem tiver consenso em relação à tática eleitoral, ou seja, ter candidatura ou apoiar candidatos de outros partidos, que possam já apresentar publicamente esses nomes.
Há municípios onde iremos apoiar outros partidos, mas na condição de o PT exercer o protagonismo, formando a chapa”
Existe, então, uma preocupação em apresentar candidaturas o quanto antes. Sim. E vale dizer que ficamos também com a posição de que vamos evitar ao máximo a realização de prévias, porque elas representam um momento de mobilização do partido, mas também representam um momento de muitos conflitos. Então, estamos tentando trabalhar a ideia de construir consensos. Queremos resolver onde é possível até 30 de novembro. E o que não der pode ficar para o começo do ano que vem, meados de março, início de abril. A ideia é que a gente antecipe as decisões o máximo que puder.
Está previsto um grande evento com Lula em Brasília, que deverá ser o pontapé inicial para a campanha. Sim, aprovamos a realização da conferência eleitoral nacional do PT em dezembro. Vai ser um momento de debate sobre a concepção programática para as eleições, com cursos sobre políticas de comunicação para a disputa. Deve ter a participação do presidente, de lideranças do governo e do partido.
Como será a atuação do governo federal e de ministros nas campanhas? Se o governo Lula estiver bem, e acredito que estará, isso terá sem dúvida uma repercussão sobre as candidaturas do partido, porque elas terminam diretamente se beneficiando disso, e dos aliados mais próximos. As ações do governo em cada região, em cada cidade, têm uma repercussão e certamente vamos procurar nos apropriar disso para reforçar nossos candidatos.
Os resultados das eleições de 2020 foram os piores da história do partido. Qual a meta para 2024? Estamos preferindo não fazer essas previsões por enquanto. Ainda é um momento de construção de um diagnóstico, da definição de linhas gerais.Talvez nem tenhamos uma meta. A meta que nós temos é ter um resultado muito melhor do que o que tivemos em 2020, que podemos dizer que foi o fundo do poço.
“Se o governo Lula estiver bem, e acredito que estará, isso terá sem dúvida uma repercussão sobre as candidaturas do partido e dos aliados mais próximos”
Existe um estado ou região que seja prioridade? Não estabelecemos, pelo menos por enquanto. Por incrível que pareça, hoje uma boa parte das candidaturas que têm viabilidade nas capitais está no Centro-Oeste, que foi uma região onde o desempenho da candidatura de Lula foi difícil. Em Goiânia, Cuiabá e Campo Grande possivelmente teremos candidaturas do PT. No Nordeste vamos ter Fortaleza, Teresina, Natal, João Pessoa, Maceió, provavelmente Aracaju.
Essas candidaturas no Centro-Oeste podem impactar 2026? Sem dúvida. Não somente na questão das capitais, mas de um modo geral. Tanto é que nosso objetivo, claro, é ganhar várias prefeituras. No entanto, em muitos lugares, ainda que a gente não ganhe, temos certeza que teremos um bom desempenho dos nossos candidatos. O que significa uma renovação de figuras de representatividade institucional do partido, futuros nomes para disputas na própria Câmara dos Deputados. Também trabalhamos com esse efeito e isso é muito importante para 2026.