Temendo atrasos da União, governadores saem à compra de agulhas e seringas
Políticos tanto de oposição quanto aliados de Bolsonaro resolvem adquirir os insumos por conta própria; pregão federal só consegue 2,4% do total necessário
Antevendo atrasos na entrega das seringas e agulhas por parte da União, boa parte dos governadores decidiu adquirir os insumos por conta própria para se preparar para a vacinação contra a Covid-19, cuja data ainda é incerta no Brasil. Tanto governadores da oposição quanto aliados do presidente Jair Bolsonaro efetuaram a compra prévia dos produtos, mesmo com a promessa do Ministério da Saúde de que iria distribuir 330 milhões dos produtos aos estados.
“O ministro Eduardo Pazuello fala em toda reunião que está comprando, mas nós já estamos nos preparando”, disse o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), que declarou já possuir à disposição 2 milhões de seringas e que tem a intenção de comprar mais 8 milhões. “As seringas são um produto não perecível, tem validade longa, de 2 e 3 anos. Por isso, estou comprando milhões para evitar o colapso lá na frente. O histórico não é bom”, completou.
Os governadores temem que ocorra com os insumos da vacina o mesmo que aconteceu com os respiradores e equipamentos de proteção no início da pandemia, quando houve uma alta desenfreada no preço e escassez dos produtos no mercado pela elevada demanda. A grande queixa é que, no primeiro semestre, essas mercadorias foram, sim, enviadas pelo Ministério da Saúde, mas com atrasos de até mais de um mês.
O governo federal só conseguiu a oferta de 7,9 milhões de seringas e agulhas em pregão eletrônico, o que corresponde a 2,4% do total pretendido (330 milhões), conforme reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo na terça-feira, dia 29. O governo federal agora terá que fazer um novo certame, ainda sem data definida.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), também anunciou que já tem tudo preparado para quando houver um imunizante regulado no Brasil. “Já temos 50 milhões de seringas e agulhas nos nossos depósitos”. Já o governo de São Paulo, comandado por João Doria (PSDB), declarou ter enviado às cidades paulistas 21 milhões de seringas e agulhas de um total de 71 milhões que comprou nos últimos pregões. A expectativa é ter no início de janeiro até 100 milhões de unidades.
Além desses materiais essenciais para a vacinação, a maioria dos governadores garante que não haverá problemas com a logística da imunização até nos municípios de difícil acesso, pois por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) já tem uma estrutura montada para campanhas de vacinação em massa, como costuma ocorrer anualmente para prevenir outras doenças, como gripe, sarampo e hepatite. “Nós já montamos um esquema para levar a vacina com os helicópteros do estado aos lugares onde só se chega de barco e aeronave”, comentou o governador do Acre, Gladson Camelli (PP).