STF mantém preso padre acusado de viver no luxo com dinheiro de hospital
Egídio de Carvalho Neto está encarcerado desde novembro, sob acusação de desviar R$ 140 milhões destinados a uma instituição filantrópica em João Pessoa

A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), manteve a prisão de Egídio de Carvalho Neto, o Padre Egídio, acusado do desvio de mais de 140 milhões de reais destinados à saúde pública durante uma década. O religioso foi diretor do Hospital Padre Zé, uma instituição filantrópica de saúde em João Pessoa (PB) e do Instituto São José, entidade mantenedora do estabelecimento. Em dezembro, ele e mais duas assistentes foram parar no banco dos réus da Justiça paraibana.
A magistrada entendeu que, no caso do Padre Egídio, a prisão preventiva está de acordo com a lei e que a intervenção do Supremo no caso é precoce, porque as instâncias inferiores ainda não foram esgotadas. “Conclui-se, portanto, não haver ilicitude na manutenção da prisão preventiva, demonstrando-se supressão de instância se este Supremo Tribunal Federal realizasse o exame per saltum da matéria questionada”, disse Cármen Lúcia na decisão. Ela determinou o arquivamento do habeas corpus apresentado pelo religioso. A decisão foi publicada no Diário de Justiça nesta quinta-feira, 18.
Padre Egídio foi preso em novembro passado, na etapa final das investigações. O Grupo de Atuação no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) da Paraíba descobriu que, durante os anos em que o religioso esteve à frente do hospital e do instituto, havia um suposto esquema de desvio das verbas recebidas pelas entidades para o patrimônio pessoal do padre. Os investigadores encontraram anotações, conversas de WhatsApp, saques e depósitos bancários que demonstrariam que o dinheiro que deveria ir para o Hospital era usado para dar uma vida de luxo ao religioso.
Vida de luxo
De acordo com a denúncia, Egídio declarava receber um salário de 15 mil reais, mas acumulou nos últimos anos um patrimônio de 20 milhões de reais. As investigações encontraram 29 imóveis de propriedade do padre nos estados de Pernambuco, São Paulo e Paraná. Há mansões e apartamentos de frente com a orla da praia. Também foram encontrados dois veículos de alto padrão: um Jeep Compass e uma Equinox Premier. Os dois veículos custam mais de 200 mil reais cada. Nos imóveis do religioso, agentes encontraram garrafas de vinho que custam mais de 1.000 reais, objetos de decoração de luxo e itens de arte sacra.

O caso começou a ser investigado pela polícia em maio de 2023. Na época, o próprio padre fez uma denúncia de furto de celulares que o hospital havia recebido de doação da Receita Federal. Os itens seriam vendidos para arrecadar verbas para a entidade. No entanto, agentes rastrearam anúncios de venda desses mesmos celulares e suspeitaram que o próprio religioso teria participado do furto, para receber parte do valor arrecadado com a venda.
Hospital pede ajuda
Depois da gestão de Padre Egídio, que terminou em outubro do ano passado, a presidência do hospital abriu um canal aberto de prestação de contas e passou a pedir doações. Em novembro, a nova gestão disse que a instituição devia mais de 2 milhões de reais — apesar de ter recebido receitas suficientes para custear toda a sua despesa.