Ronaldo Caiado: ‘Lula perdeu a vontade de governar’
Governador de Goiás aponta erros do presidente em posicionamentos sobre Israel e na revisão da meta fiscal — e confirma pré-candidatura ao Planalto em 2026
Cotado para disputar o eleitorado de oposição na corrida ao Planalto em 2026, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), tem disparado críticas à atuação do governo Lula. Entre os erros apontados estão as falas do presidente, que ele classifica como “infelizes e irresponsáveis”, sobre o conflito entre Israel e Hamas e os ataques do Irã ao território israelense.
Também contesta o recuo da gestão do petista na meta fiscal de superávit para 2025. “Você não vê o governo com ações concretas, e vê o presidente perdendo a vontade de governar”, diz. Em entrevista a VEJA, Caiado fala ainda sobre a relação com o ex-presidente Jair Bolsonaro — a quem credita o resgate da direita conservadora no país — e afirma que as divergências entre ambos, em especial no período da pandemia, são “coisas normais na política”. Leia a entrevista.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou a revisão da meta fiscal para 2025. O governo recuou da previsão de superávit de 0,5% para uma outra, de déficit zero. O que achou da decisão? Acende o alerta. No momento em que você muda totalmente os parâmetros para poder avaliar a economia, que você busca o novo arcabouço fiscal, que você modifica toda uma estratégia, liberando investimento, mas sem saber de onde arrecada. De repente você diz: Olha, essa meta já não vai ser ‘zero a zero’ mais. Será que vai ser só isso? Como é que ela vai caminhar? No momento em que você vê o presidente perdendo a vontade de governar. Você não vê o governo com ações concretas, ele está se esvaziando por falta de eficiência. Essa é uma realidade. Junto com isso, sem dúvida nenhuma, está a economia. Uma reforma tributária que ainda não foi sequer regulamentada. Não sabemos nem qual será a real carga tributária no país.
O senhor esteve em Israel e condenou os atos terroristas do Hamas. Na última semana, o país foi alvo de novos ataques, desta vez do Irã. O Itamaraty emitiu uma nota considerada “branda”, que não condena de forma veemente a ofensiva. Qual a sua avaliação? Analiso como sendo uma infelicidade enorme do presidente Lula, até porque o Brasil sempre foi conhecido como um país que sempre lutou pela pacificação . Eu fui no kibutz que fica a menos de 2 quilômetros da Faixa de Gaza e vi a maneira como aquilo foi transformado, totalmente destruído (pelo Hamas). As pessoas civis simples, que não tinham nenhuma arma, foram assassinadas brutalmente, com um nível de barbaridade jamais visto. E, depois do que houve na Segunda Guerra, um presidente da República dizer que eles (israelenses) estavam praticando o Holocausto… É algo de uma infelicidade, de uma irresponsabilidade muito grande, comparar quando o povo judeu foi massacrado com a resposta que deram em Gaza, como se aquilo fosse um holocausto. Quando estive em Israel, pedi desculpas em nome do povo brasileiro, porque nós não pensamos dessa maneira. O certo é que não se pode comparar uma guerra com a barbaridade da Segunda Guerra, que foi o Holocausto.
O senhor é apontado como um dos herdeiros do espólio eleitoral de Bolsonaro e um provável candidato à Presidência em 2026. Isso está nos seus planos? Tem que ter muita ponderação. Mas, neste momento, o que eu já propus e realmente comuniquei ao meu partido, o União Brasil, é que quero me colocar como pré-candidato. Agora, sei que isso não é apenas a minha vontade. Você tem que construir uma base partidária, tem que saber se você consegue avançar nas alianças e nas coligações. Tem que passar por uma convenção, e aí, sim, ir para a campanha eleitoral. Então, são várias etapas, mas a minha disposição é exatamente essa hoje.
Com quem o União Brasil poderia dialogar para começar a construir essa aliança? O senador Ciro Nogueira, presidente do PP, defende a construção de um novo “megabloco” de legendas. Seria uma federação, que está sendo cada vez mais conversada, com os partidos Republicanos, PP e União Brasil. Poderão vir outros? Sim. É possível antes das eleições municipais? Não, não é possível. É possível antes da eleição da Mesa da Câmara e do Senado? Muitos acham também que não. A perspectiva é que isso se consolide a partir de 1º de fevereiro de 2025. Então, dentro dessa lógica, podemos chegar, sim, a uma federação com mais de 150 deputados federais e trinta senadores da República. Numa campanha eleitoral, isso é uma força indiscutível — de tempo de televisão, de capacidade de atrair aliados no Brasil todo e de poder disputar uma eleição.
No passado, houve algumas divergências com Bolsonaro, como durante a pandemia e na eleição de 2022, quando o senhor não o apoiou no primeiro turno. Como é a sua relação com o ex-presidente hoje? É normal ter discordância. Em certos momentos, eu discordei da posição dele, ele discordou da minha. Porque é o normal na política. Eu acredito na vacina, ele não acredita na vacina. É um direito de cada um. Cada um toma sua decisão. Se você for analisar do ponto de vista de princípios em relação a livre-iniciativa, direito de propriedade, economia de mercado, geração de emprego e renda, onde é que está a diferença? Não tem.
O ex-presidente se coloca como o principal nome da direita, atuando como cabo eleitoral e arrastando multidões às ruas, mesmo estando inelegível. Como avalia esse movimento? Temos que reconhecer que Bolsonaro conseguiu fazer com que aflorasse o sentimento de conservadorismo, de liberdade, de iniciativa privada. Depois do governo dele ou no governo dele. Isso é uma realidade. Foi ele quem conseguiu fazer com que isso viesse à tona. A vontade do povo brasileiro, 60%, 70%, é ser conservador. Só que tinha um certo acanhamento, faltava aquela coisa de despertar isso junto às pessoas. Eu comecei (na direita) até antes dele, mas coube a ele fazer esse movimento, fazer as pessoas terem essa convicção de ir para as ruas, de se posicionar, de se defender. Então, isso é um lado extremamente positivo. É a verdadeira democracia.