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Religioso e anti-marxista, Ernesto Araújo já espalha terror no Itamaraty

Novo chanceler empurra veteranos diplomatas ao limbo, quebra tradição e indica a adoção de 'relações carnais' com os EUA

Por Denise Chrispim Marin 31 dez 2018, 19h40

O embaixador Ernesto Araújo conseguiu espalhar no Itamaraty um terror visto apenas há 50 anos quando, em plena ditadura militar, o embaixador Manuel Pio Correa tocava a secretaria-geral das Relações Exteriores. Não se trata de novidade a decisão de Araújo de empurrar para o ostracismo veteranos diplomatas. Celso Amorim fizera o mesmo nos anos de governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas o fanatismo religioso de Araújo, aplicado a uma seara do serviço público, e sua promessa de combate ao “marxismo cultural” supostamente enraizado no Ministério já começam a provocar uma corrida por postos no exterior e por licenças não-remuneradas.

O chanceler do presidente Jair Bolsonaro tomará posse do Ministério das Relações Exteriores nesta quarta-feira, 2, com discurso aos funcionários da Casa no qual suas diretrizes serão expostas preto no branco. Ernesto Araújo deverá também anunciar oficialmente sua equipe de colaboradores diretos, os subsecretários das diferentes áreas da casa, entre os quais pelo menos três ou quatro ainda não alcançaram a posição de embaixador em suas carreiras. Como o próprio embaixador Araújo, a maioria não terá jamais chefiado uma representação do Brasil no exterior.

O grande temor no Itamaraty está em uma “caça às bruxas” tão ampla quanto aquela que o ultraconservador Pio Corrêa, rapidamente alcunhado de “O Abominável Homem das Nove”, adotou na sua gestão. Fundador do famigerado Centro de Informações do Exterior (CiEx), Pio Corrêa se tornou mais conhecido pelo expurgo de “vagabundos, bêbados e pederastas” que promoveu no Itamaraty. Entre suas vítimas estava o poeta Vinícius de Moraes.

Os profissionais do Itamaraty que se destacaram nos governos petistas – por engajamento político ou simplesmente por dever de ofício e competência – estarão entre as vítimas do novo chanceler. Alguns deles retornaram do exterior recentemente para assumir postos que não mais terão Nas últimas semanas, vagavam pelo Itamaraty sem acesso ao novo chanceler nem sinal sobre o rumo que poderão tomar.

Os subsecretários durante a gestão de Aloysio Nunes Ferreira tinham colocado seus cargos à disposição, como manda o protocolo. Ainda assim, cada um deles recebeu um telefonema – não uma visita pessoal nem um chamado para uma audiência – do futuro secretário-geral das Relações Exteriores, o embaixador Otávio Brandelli, para informá-los que não continuarão nos seus cargos. Todos entregarão os aparelhos de telefone celular que usavam como subsecretários até a quarta-feira, 2, e seguirão para o mesmo limbo – no jargão diplomático, o Departamento de Escadas e Corredores (DEC) da Casa de Rio Branco – de seus colegas embaixadores recém-chegados do exterior.

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Paira no ar o temor de que o “chanceler-inquisidor” vá além e estenda sua perseguição a homossexuais e aos que não se mostrem devidamente engajados com a linha ideológica do governo de Bolsonaro nem com a política externa adotada. Neste último campo, as declarações das novas autoridades federais foram suficientes para estimular o pânico na Casa de Rio Branco. Ainda mais porque muitas das mudanças apregoadas ferem a tradição que deu respeito ao Brasil na seara internacional e vêm com a justificativa de correção ou de eliminação de um viés marxista inexistente.

A mudança da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, bandeira de Bolsonaro para o eleitorado evangélico, é um exemplo. A conexão mais estreita com a diplomacia de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, prenuncia um período de “relações carnais” entre Brasília e Washington, como a Argentina de Carlos Menem pretendeu nos anos 1990. Essa vinculação foi sinalizada com a retirada do Brasil de organismos internacionais, com a provável denúncia do Acordo de Paris e do Acordo sobre Migração e com a política inóspita a ser adotada em relação à Venezuela (2.200 quilômetros de fronteira terrestre), Cuba, Nicarágua e China.

Dentro do Itamaraty, a esperança de moderação está na reação dos setores empresariais à quebra da tradição diplomática brasileira de não-alinhamento automático e às decisões pontuais que certamente resultarão em prejuízos aos exportadores e investidores. Nesse aspecto, a posição do superministro da Economia, Paulo Guedes, terá de ser ouvida e tenderá a pesar tanto quanto a do chanceler – o que traz alguma perspectiva de alento para os diplomatas. Caso contrário, no momento em que a política externa comece a gerar desemprego e desinvestimento, o Planalto certamente optará por mudanças.

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