Questão ‘demoniza’ o agronegócio no primeiro Enem do novo governo Lula
Formulação de uma das perguntas diz que no Cerrado o conhecimento local está cada vez mais subordinado à lógica da agropecuária
No primeiro Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) aplicado no terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, há ao menos uma questão embaraçosa para o governo na sua difícil relação com o agronegócio, um dos principais setores da economia e da política e com quem o petista vem tendo dificuldades desde a campanha eleitoral.
A questão 89 da prova branca diz que no “no Cerrado, o conhecimento local está sendo cada vez mais subordinado à lógica do agronegócio”. “De um lado, o capital impõe os conhecimentos biotecnológicos, como mecanismo de universalização de práticas agrícolas e de novas tecnologias, e de outro, o modelo capitalista subordina homens e mulheres à lógica do mercado”, diz a pergunta no seu início.
E continua: “Assim, as águas, as sementes, os minerais, as terras (bens comuns) tornam-se propriedade privada. Além do mais, há outros fatores negativos, como a mecanização pesada, a ‘pragatização’ dos seres humanos e não humanos, a violência simbólica, a superexploração, as chuvas de veneno e a violência contra a pessoa”.
Ao fim, é questionado o que demonstram os elementos descritos no texto (veja as opções abaixo). O gabarito oficial ainda será divulgado no próximo dia 24 de novembro pelo Inep, órgão ligado ao Ministério da Educação e ao qual cabe coordenar a formulação das questões, mas gabaritos extraoficiais divulgados por cursinhos especializados apontam que a resposta correta é a a): cerco aos camponeses, inviabilizando a manutenção das condições para a vida.
Nas redes sociais, já há muita gente criticando, como o ex-secretário da Agricultura de São Paulo, Xico Graziano. “A questão 89 do Enem reflete uma formulação idealista, anticientífica: a ‘recampenização’. Manter os pequenos produtores rurais plantando sementes crioulas, carpindo na enxada e vendendo ovo caipira na feirinha significa negar a evolução tecnológica no campo. Negacionismo puro”, postou.
O tratamento é ruim para o governo Lula, que tem que lidar com um setor que responde por 24% do PIB do país e cuja frente no Congresso tem nada menos que 304 deputados e 41 senadores.