Quem são os youtubers bolsonaristas que estão apagando vídeos contra o STF
Corte julgará o deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) no próximo dia 20 por ameaças aos ministros. Onze canais fizeram 'limpeza' nos últimos dias

Nos últimos seis dias, de 7 a 12 de abril, onze canais bolsonaristas apagaram ou tornaram privados 209 vídeos no YouTube que continham críticas pesadas ao STF (Supremo Tribunal Federal) e ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e saíam em defesa do deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), que será julgado pelo Supremo no próximo dia 20 justamente por ameaçar a Corte. Alguns desses canais chegam a ter 1 milhão de visualizações em um único vídeo. Trata-se de um filão bem remunerado pela plataforma, que paga os donos dos perfis de acordo com a audiência. O levantamento foi feito pela empresa de análise de dados Novelo Data.
Luan Amâncio, que tem 309 mil inscritos em seu canal no YouTube, tirou do ar 63 vídeos. Um deles dizia “Diretor da ABIN parte pra cima do STF e faz REVELAÇÕES!”. Outro anunciava “Vídeo BOMBA revela a VERDADE sobre a PRISÃO de DANIEL SILVEIRA!”. Ou ainda “AGORA! Deputados bolsonaristas e AGU enquadram Barroso na Lei de Segurança Nacional!”. O canal se descreve como “patriota e conservador” e contabiliza, no total, mais de 26 milhões de visualizações.
O Papo Conservador, do youtuber Gustavo Gayer, removeu 59 vídeos nos últimos dias. O conteúdo vai na mesma linha de Amâncio: “Bomba! Vaza áudio do General Heleno sobre o STF e o perigo para 2022”, “STF e imprensa farão de tudo para esvaziar o 7 de setembro” e “Bolsonaro quebra o silêncio e dá um aviso aos ditadores do STF”. Pré-candidato a deputado pelo PL de Goiás, Gayer tem 387 mil seguidores no YouTube, onde descreve seu canal como um espaço “dedicado a divulgar e defender a verdade”.
Outro que fez a “limpeza” foi a Rota da Notícia, que retirou da plataforma 27 vídeos, como “Daniel Silveira critica Alexandre de Moraes e clima esquenta!” e “Bolsonaro revela como Barroso ignora as ações das Forças Armadas no T$E”.
Em agosto passado, o TSE suspendeu temporariamente a remuneração paga por plataformas como o YouTube a onze canais que faziam ataques ao processo eleitoral, lançando suspeitas infundadas sobre as urnas, por exemplo. A medida, que vigora até hoje, atingiu os canais mais famosos entre os bolsonaristas — como Folha Política, Vlog do Lisboa e Jornal da Cidade Online. À época, eles foram mapeados por uma investigação da Polícia Federal. Mas esse mercado é tão vasto que a grande maioria dos canais que agora retiraram do ar esses vídeos passou despercebida naquela ocasião — e tudo indica que quer continuar sem ser incomodada. Somente o Vlog do Lisboa, que apagou seis vídeos nos últimos dias, chegou a ser alvo do TSE.
Os outros canais bolsonaristas que também limparam suas listas de vídeo, segundo a Novelo Data, foram: Brado (2 vídeos), Casal em guerra (5), Frederico Rodrigues (1), Junior Japa (25), Mundo Polarizado (3), Jacaré de Tanga (5) e O Lado B TV (12). Esse tipo de iniciativa é prática recorrente. Em fevereiro de 2021, quando Silveira foi preso por decisão do STF, a empresa já havia identificado que alguns influenciadores imediatamente esconderam vídeos — como o deputado Paulo Martins (PL-PR), que na ocasião retirou do ar 15 vídeos divulgados por ele no YouTube.