Nenhum político da envergadura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anda só em Brasília. Na semana passada, quando o petista foi à capital federal para realizar uma série de encontros com políticos, o entourage de Lula foi formado basicamente por deputados e senadores da sigla, mas também pelo ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e pela presidente do partido, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR).
Haddad e Gleisi acumularam desavenças durante a maior parte do período em que Lula estava com os direitos políticos cassados pelas condenações por corrupção. O relacionamento entre eles melhorou quando Lula, descrente de uma decisão favorável no Supremo Tribunal Federal (STF), lançou Haddad como o candidato à Presidência em 2022. O ex-prefeito chegou a ir a Belo Horizonte e a Brasília para se apresentar como candidato, mas Lula voltou ao páreo após o STF decidir que Curitiba não tinha competência para julgar o ex-presidente na Lava-Jato.
Por liderar o partido e por ser próxima a Lula, Gleisi participa junto ao ex-presidente de todas as negociações para formar alianças políticas. Já Haddad está sendo preparado internamente para concorrer ao governo do estado de São Paulo. Segundo dirigentes petistas, o ex-prefeito se empolgou com a possibilidade de disputar o Palácio dos Bandeirantes no ano que vem. Sua candidatura também seria um importante palanque para Lula em São Paulo, estado onde o PT só elegeu quatro prefeitos em 2020. Na eleição presidencial de 2018, Haddad recebeu 47 milhões de votos e foi derrotado no segundo turno por Jair Bolsonaro.
Lula só esteve sozinho nas reuniões com o senador Jader Barbalho (MDB-PA) e com o ex-presidente José Sarney (MDB). Nas demais, o petista andou ao lado de figuras que lideram a atuação parlamentar da sigla em Brasília. Um dos mais assíduos é o deputado José Guimarães (CE), que coordenou nas eleições municipais o Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) do partido. Guimarães ganhou pontos com Lula pela atuação nacional que exerceu no pleito, embora o PT tenha eleito apenas 183 prefeitos — número inferior ao registrado em 2016.
Paulo Teixeira (SP), outro deputado de bom trânsito na oposição, foi convidado para participar da reunião com o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), que tenta articular uma frente de esquerda para se lançar ao governo do Rio de Janeiro em 2022. O senador Jaques Wagner (BA) esteve no encontro com o ex-presidente do Senado Eunício Oliveira (MDB-CE) — ambos foram ministros no primeiro mandato de Lula.
Outros dois senadores também estiveram ao lado de Lula em reuniões. O líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA), e o seu antecessor no posto, Rogério Carvalho (SE), participaram do jantar que reuniu a bancada petista com o pré-candidato ao governo do Maranhão, senador Weverton Rocha (PDT), e foram com Lula ao encontro do também senador Fabiano Contarato (Rede-ES). A intenção de Lula é filiar Contarato ao partido para lançá-lo como candidato ao governo do Espírito Santo, o que daria ao ex-presidente um palanque próprio num estado de forte identificação com o bolsonarismo.
Por ter se cercado de tantos correligionários, detalhes sobre a agenda de Lula acabaram vazando para a imprensa em diversas ocasiões. VEJA apurou que a equipe de segurança do petista reforçou os protocolos por ter ficado preocupada com a intensa circulação de pessoas no hotel onde ele estava hospedado. O temor era de que Lula fosse exposto a protestos ou a atos de agressividade vindos de opositores bolsonaristas. Nenhuma ocorrência dessa natureza ocorreu em Brasília.
Segundo pesquisa divulgada pelo instituto Datafolha na quarta-feira, 12, Lula lidera a disputa pelo Palácio do Planalto em 2022 com 41% das intenções de voto, contra 23% de Bolsonaro. No segundo turno, o petista venceria o atual presidente por 55% a 32%. A rejeição de Lula também é menor do que a de Bolsonaro. No levantamento, 54% dos eleitores dizem que não votariam de jeito nenhum no atual presidente, enquanto 36% rechaçam o petista.