Quem é a terceira vítima fatal de intoxicação por metanol em SP
Bruna Araújo de Souza foi internada após beber drink com vodca em São Bernardo do Campo; morte ainda não foi contabilizada pelo governo do estado

A prefeitura de São Bernardo do Campo, no Grande ABC (região metropolitana de São Paulo), confirmou na noite da segunda-feira, 6, a morte de Bruna Araújo de Souza, 30, após ela ser internada com um quadro de intoxicação por metanol na cidade, logo após ter consumido bebida alcoólica em uma apresentação musical.
A jovem é a terceira pessoa a morrer em um caso desse tipo confirmado por autoridade pública no estado de São Paulo. A sua morte em decorrência da ingestão de metanol, no entanto, ainda não foi contabilizada oficialmente pela Secretaria de Estado da Saúde, que deve divulgar um novo balanço até o final do dia. O estado contabiliza oficialmente dois óbitos (homens de 54 e 46 anos, residentes da capital) e investiga outras seis mortes — três na cidade de São Paulo (36, 45 e 50 anos), dois em São Bernardo do Campo (49 e 58 anos) e um em Cajuru (26 anos), todos homens.
A confirmação do caso de Bruna foi reforçada a VEJA pelo secretário municipal de Saúde, Jean Gorinchteyn, que comandou a pasta estadual da Saúde no governo João Doria, durante a pandemia da Covid-19: “A confirmação se deu após exame de perícia que apontou alta presença de metanol no sangue dela”, afirma.
A intoxicação de Bruna teve início após ela beber um drink de suco de pêssego com vodca adulterada em um show de pagode que ocorreu na cidade na semana passada. Ela foi acompanhada ao evento por três amigos. “Na hora que chegou o combo, o balde, ele [o garçom] abriu e começou a fazer as doses. Uma dose de vodca, com gelo de água e o suco. Aí, eles começaram a beber. Ela estava dançando, se divertindo, não reclamou de nada. Eu não bebi, tomei só o suco”, relatou uma das amigas, Gabriela Damasceno, em entrevista exibida no Fantástico no último domingo, 5.
No dia seguinte, Bruna passou o dia vomitando e chegou a enviar um áudio para a amiga, relatando seu quadro: “A sensação é horrível. Nossa… Parece que eu vou desmaiar. Não consigo nem olhar para a tela do celular”. “A Bruna é uma pessoa maravilhosa, uma mulher batalhadora, guerreira”, descreveu a irmã da vítima, Karen Araújo.
Bruna é velada e sepultada no cemitério Memorial Jardim Santo André nesta terça-feira, 7.
Quadro dos casos de metanol
– São Bernardo do Campo
A morte de Bruna Araújo de Souza é a primeira a ser confirmada em um caso de intoxicação por metanol em São Bernardo do Campo. Outras cinco pessoas, todos homens, morreram na cidade sob suspeita de um mesmo quadro, mas ainda não há confirmação. A vigilância epidemiológica municipal recebeu 78 notificações de suspeita por contaminação de metanol e investiga as situações.
– Estado de São Paulo
O estado tem três mortes confirmadas por intoxicação por metanol em decorrência da ingestão de bebidas — duas foram confirmadas pela Secretaria de Estado da Saúde (homens de 46 anos e 54 anos de idade na capital paulista) e uma pela prefeitura de São Bernardo do Campo. O último balanço estadual falava em quinze casos confirmados de intoxicação e outros 164 em investigação, além dos seis óbitos sob suspeita.
O governo paulista fechou onze estabelecimentos na semana passada por suspeita de envolvimento com a venda de bebidas adulteradas com metanol. Confira aqui a lista completa.
Além disso, as autoridades estaduais confirmaram vinte prisões por envolvimento em adulterações e falsificações de bebidas e descartou, mais de uma vez, a possibilidade de conexão dos crimes com a facção Primeiro Comando da Capital (PCC).
– Brasil
Em todo o país, até a segunda-feira, 6, o Ministério da Saúde recebeu 217 notificações de intoxicação por metanol após consumo de bebida alcoólica. Deste total, 17 casos foram confirmados e 200 seguem em investigação.
O estado de São Paulo concentra 82,49% das notificações, com 15 casos confirmados e 164 em investigação. Além de São Paulo, o Paraná registra dois casos confirmados e quatro em investigação.
Outros 12 estados notificaram casos em investigação: Acre (1), Ceará (3), Espírito Santo (1), Goiás (3), Minas Gerais (1), Mato Grosso do Sul (5), Paraíba (1), Pernambuco (10), Piauí (3), Rio de Janeiro (1), Rondônia (1) e Rio Grande do Sul (2).
Bahia, Distrito Federal e Mato Grosso descartaram os casos que estavam sob análise.
Em relação aos óbitos, dois haviam sido confirmados em São Paulo até a manhã da segunda, e 12 estavam em investigação — sendo um em Mato Grosso do Sul, três em Pernambuco, seis em São Paulo, um na Paraíba e um no Ceará.
Além disso, o Ministério da Saúde anunciou um suporte de laboratórios para agilizar resultados das perícias em São Paulo, estado-epicentro da crise.