QG do Golpe: como a estrutura do PL foi usada por golpistas, segundo a PF
Investigações demonstraram instrumentalização do partido para disseminação de notícias falsas sobre o sistema eleitoral
A Polícia Federal investiga o uso da estrutura do PL, partido de Jair Bolsonaro, para a elaboração de uma minuta golpista e a disseminação de notícias falsas sobre o sistema eleitoral brasileiro. As informações constam no relatório que embasou a operação contra militares e assessores do ex-presidente na manhã desta quinta-feira, 8.
Segundo a PF, o avanço das investigações demonstrou a instrumentalização do Partido Liberal para “financiar a estrutura de apoio as narrativas que alegavam supostas fraudes às urnas eletrônicas”, de modo a legitimar as manifestações que ocorriam em frente aos quartéis militares.
A intenção era restringir a atuação do Poder Judiciário, impedir a posse de Lula e dar um golpe de Estado, garantindo a manutenção de Bolsonaro no poder. O chamado núcleo jurídico da organização criminosa teria usado uma casa alugada pelo PL, em Brasília, batizada de “QG do Golpe” — o imóvel foi utilizado como Comitê de Campanha da legenda durante a eleição de 2022.
Esse grupo era responsável pela elaboração de minuta com fundamentação jurídica que atendessem aos interesses golpistas dos investigados, de acordo com a PF. Integram o núcleo o advogado Amauri Saad e o ex-assessor da Presidência, Filipe Martins, preso na operação de hoje.
Outro investigado, o padre José Eduardo de Oliveira e Silva, solicitou pelo menos cinco viagens por aplicativo até o imóvel utilizado pelo PL e esteve com Filipe Martins na reunião para apresentar a minuta golpista a Bolsonaro. “As reiteradas idas do investigado a residência alugada pelo partido e o vínculo comprovado com Filipe Martins demonstram a intrínseca relação entre o núcleo jurídico da organização criminosa e o Partido Liberal”, diz a representação.
A PF também cita a contratação do Instituto Voto Legal, paga diretamente com recursos do fundo partidário, para a elaboração do estudo que levou o PL a contestar o resultado das urnas após o segundo turno. Os investigadores concluíram que a legenda, através de seu presidente, Valdemar Costa Neto, tinha “plena ciência da interlocução e do alinhamento que os investigados desenvolveram na construção da narrativa de fraude às urnas eletrônicas”.