Plano de ‘Abin paralela’ foi citado por Bebianno em março de 2020
Ex-ministro disse em entrevista na TV que havia um projeto do governo Bolsonaro para espionar adversários políticos

A intenção do governo Jair Bolsonaro de criar uma “Abin paralela” foi revelada no início de março de 2020 pelo ex-ministro da Secretaria-GEral da Presidência Gustavo Bebianno, doze dias antes de ele morrer de um ataque cardíaco. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, ele afirmou que o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do ex-presidente, tinha a intenção de usar a estrutura federal para espionar adversários políticos. Segundo Bebianno, os ex-ministros Augusto Heleno (GSI) e Carlos Alberto Santos Cruz (Secretaria de Governo) tinham ciência do plano e o próprio Bolsonaro teria participado de reuniões para a criação do grupo paralelo de arapongagem.
Bebianno relatou à época que nos primeiros meses do governo Bolsonaro ele, então secretário de Governo, foi procurado por Carlos, que lhe apresentou os nomes de um delegado federal e de três agentes que iriam fazer parte de uma suposta Abin paralela. Questionado por jornalistas se o delegado citado seria o então diretor da Abin, Alexandre Ramagem, Bebianno preferiu não responder.
Operação da PF
Nesta quinta-feira, 25, a Polícia Federal deflagrou a Operação Vigilância Aproximada para investigar integrantes de uma organização criminosa que teria se instalado Agência Brasileira de Inteligência (Abin) com o intuito de monitorar ilegalmente autoridades públicas e outras pessoas, utilizando-se de ferramentas de geolocalização de dispositivos móveis sem a devida autorização judicial. O principal alvo da operação é o hoje deputado federal Alexandre Ramagem, pré-candidato do PL à prefeitura do Rio de Janeiro.
Ao todo, policiais federais cumprem 21 mandados de busca e apreensão, além de medidas cautelares diversas da prisão, incluindo a suspensão imediata do exercício das funções públicas de sete policiais federais, cujos nomes não foram revelados. As diligências de busca e apreensão ocorrem em Brasília (DF), Juiz de Fora (MG), São João Del Rei (MG) e Rio de Janeiro. As ordens contra Ramagem são cumpridas em endereços dele e no gabinete na Câmara dos Deputados.
Última Milha
A ação é um desdobramento da Operação Última Milha, deflagrada em outubro de 2023, para investigar o uso de um software espião chamado FirstMile para monitoramento de aparelhos celulares. Um dos alvos da Última Milha era Caio Cesar dos Santos Cruz, filho do general Santos Cruz. Segundo a PF, ele teria participado da intermediação da venda do programa junto à fabricante israelense. Na ocasião, Santos Cruz disse não haver qualquer irregularidade na atuação do filho no negócio.
A Polícia Federal investiga se a estrutura da “Abin paralela” foi utilizada para produção de dossiês sobre os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, e o então governador do Ceará, Camilo Santana, hoje titular da Educação, além de adversários políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro.