PF faz operação contra o tráfico mais antigo do país: o de pau-brasil
Policiais cumprem vinte mandados de busca e apreensão contra suspeitos de formarem organização criminosa no ES; prática existe desde a descoberta do Brasil

A Polícia Federal deflagrou nesta terça-feira, 30, uma operação contra a prática do tráfico mais antigo do país: o de pau-brasil, praticado desde que os primeiros europeus chegaram ao país. Vinte mandados de busca e apreensão foram cumpridos em quatro municípios do norte do Espírito Santo. Os investigadores acreditam que a maior parte da madeira foi derrubada no Parque Nacional do Pau-Brasil, no sul da Bahia, que abriga a maior quantidade de remanescentes da árvore-símbolo nacional, atualmente sob risco de extinção.
A estimativa é que os suspeitos tenham lucrado mais de 232 milhões de dólares com o contrabando no mercado internacional. A madeira era utilizada principalmente para fabricar arcos e varetas de violino, que são vendidas a um valor final de mil dólares, em média, valor que pode chegar até 2.600 dólares. A PF investiga ao menos 20 pessoas, entre intermediários, extratores, atravessadores, artesãos e empresas produtoras de arcos de violino.
A maior parte dos produtos tem como destino os Estados Unidos, mas também há remessas a países europeus como Inglaterra e Itália. A operação teve apoio da U.S. Fish and Wildlife Service (UFW), agência americana que combate crimes ambientais, e também do Ibama. Os produtos recebiam o acabamento em solo nacional antes de serem despachados para o exterior. Segundo a PF, há indícios de que a mesma organização trabalhava em várias etapas da cadeia de produção, desde a extração clandestina do pau-brasil em reservas ambientais até a fabricação dos instrumentos.
Até agora, nenhum dos suspeitos foi preso. O objetivo da operação era reunir mais provas contra os investigados. A investigação teve início no fim de 2019, após o Ibama apreender cerca de 42 mil unidades de arcos e varetas de violino feitos com pau-brasil ilegal. Essa apreensão ocorreu durante a Operação Dó-Ré-Mi, que o Ibama realiza anualmente.
A espécie é considerada ameaçada desde 1992 pelo Ibama, quando o corte passou a ser limitado pelas normas ambientais brasileiras. Há ao menos 14 anos está em vigor uma proteção internacional que impõe restrições ao comércio internacional.
História
Espécie natural da Mata Atlântica, o pau-brasil era abundante na costa brasileira desde a região do Rio de Janeiro até o Rio Grande do Norte. Na linguagem tupi, a árvore é conhecida como ibirapitanga, ou simplesmente “árvore vermelha”. Sua extração foi a primeira grande atividade econômica após a chegada dos europeus na América, através de escambo com os indígenas.
O contrabando nas primeiras décadas do século XVI envolveu não só portugueses, mas franceses, holandeses, espanhóis e ingleses. A madeira era usada para móveis e utensílios, e a tinta vermelha extraída para tingir tecidos. Estima-se que ao menos meio milhão dessas árvores caíram durante os anos de colônia, segundo estimativa de um estudo sobre a história da exploração realizado na Universidade de São Paulo (USP) em 2004.