PF diz que preparação para golpe de Estado começou em 2019
Articulação teria começado com difusão de discursos antidemocráticos por Bolsonaro e aliados, questionando o sistema eleitoral e a democracia brasileira
A Polícia Federal concluiu que os aliados de Jair Bolsonaro estavam se articulando desde 2019 para mantê-lo no poder por meio de um golpe de Estado. Essa é uma das constatações a que chegaram os investigadores no relatório de indiciamento divulgado nesta terça-feira, 26, que vincula o ex-presidente e 36 correligionários aos crimes de tentativa de golpe de Estado, associação criminosa e abolição violenta do Estado democrático de Direito — delitos cujas penas máximas, somadas, chegam a 28 anos de prisão.
“Conforme todos os atos executórios descritos, a investigação reuniu elementos que permitiram a conclusão de que os investigados atuaram de forma coordenada, mediante divisão de tarefas, desde o ano de 2019, com o emprego de grave ameaça para restringir o livre exercício do poder Judiciário e impedir a posse do governo legitimamente eleito, com a finalidade de obter a vantagem relacionada a manutenção no poder do então presidente da República Jair Bolsonaro”, diz um dos trechos da conclusão da Polícia Federal.
O documento de 884 páginas faz uma linha do tempo desde a posse do ex-presidente até o ataque a bomba feito na frente do STF no último dia 13, em que um morador de Santa Catarina morreu. Para os investigadores, a preparação do terreno para um possível golpe de Estado começou com a propagação de discursos antidemocráticos por Bolsonaro e seus aliados, questionando a idoneidade do sistema eleitoral e da democracia brasileira.
“O grupo ora investigado, desde o ano de 2019, já propagava essa ideia. O objetivo era sedimentar na população a falsa realidade de fraude eleitoral para posteriormente a narrativa atingir dois objetivos: inicialmente não ser interpretada como um possível ato casuístico, em caso de derrota eleitoral e, o mais relevante, ser utilizada como fundamento para os atos que se sucederam após a derrota do então candidato Jair Bolsonaro no pleito de 2022”, diz outro trecho do relatório de indiciamento.
O caso segue agora para análise da Procuradoria-Geral da República (PGR). O órgão pode tanto arquivar a investigação quanto pedir mais diligências à PF ou já oferecer denúncia, tanto pelos crimes que constam no indiciamento quanto por outros.