Perfil oficial anuncia a morte do escritor Olavo de Carvalho aos 74 anos
Falecimento do guru do bolsonarismo, que estava internado após contrair Covid-19, foi confirmado pelo site do escritor e pela família; Bolsonaro lamenta

O escritor Olavo Luiz Pimentel de Carvalho morreu na noite de segunda-feira, 24, em um hospital na região de Richmond, na Virgínia (EUA), onde estava hospitalizado havia oito dias após ter contraído Covid-19. A informação foi divulgada pelo seu perfil oficial no Twitter, mas a causa da morte não foi informada. O presidente Jair Bolsonaro lamentou a morte em post publicado na madrugada desta terça-feira, 25.
https://twitter.com/opropriolavo/status/1485840173262901250?s=20
A morte também foi anunciada pelo site Brasil Sem Medo, um canal de notícias na internet criado pelo escritor. O diretor editorial do portal, Silvio Grimaldo, seu parceiro na criação do veículo, retuitou a informação. “A família agradece a todos os amigos as mensagens de solidariedade e pede orações pela alma do professor”, postou o site.
https://twitter.com/JornalBSM/status/1485842078248620036?s=20
A informação também foi referendada pela filha de Olavo, Heloisa de Carvalho Martin Arribas, que era rompida com o pai. “Que Deus perdoe ele de todas as maldades que cometeu”, postou Heloisa no Twitter. O escritor deixa a esposa, Roxane, oito filhos e dezoito netos.
https://twitter.com/Carvalho_A_Helo/status/1485841633765740547?s=20
Olavo de Carvalho havia sido hospitalizado ao menos três vezes no ano passado. No dia 8 de julho, ele foi internado no Incor-SP após apresentar uma crise de angina — sensação de peso, dor ou aperto no peito devido à diminuição do fluxo de sangue nas artérias que levam oxigênio ao coração. Nessa passagem, ele foi submetido a tratamento medicamentoso para compensação cardíaca e a uma cirurgia de revisão de operação da bexiga feita em maio, quando Olavo estava nos Estados Unidos.
Em agosto, ele foi novamente internado no Incor-SP, com quadro de insuficiência cardíaca e renal aguda e infecção sistêmica. Em novembro, ele deixou o Brasil às pressas logo após ser intimado pela Polícia Federal para prestar esclarecimentos num inquérito que investiga a atuação de milícias digitais para atacar as instituições democráticas. O episódio nunca foi totalmente esclarecido.
Carreira
Nascido em 1947 em Campinas, Olavo estava desde 2005 na Virgínia. Como astrólogo, chegou a lecionar na Unicamp. Ele escreveu o seu primeiro livro em 1980, A Imagem do Homem na Astrologia, mas alcançou sucesso, principalmente entre o público de direita, com best-sellers que lançou nos anos seguintes, como O Jardim das Aflições (1995) — que rendeu um filme em 2017, dirigido por Josias Teófilo –, O Imbecil Coletivo (1996) e O Mínimo que Você Precisa Saber Para Não Ser um Idiota (2013). Ele foi autor ou co-autor de mais de 30 livros.
Olavo ganhou projeção com a vitória de Jair Bolsonaro à Presidência da República em 2018. Tido como um dos grandes influenciadores ideológicos do bolsonarismo, ele teve atuação direta no governo com a ascensão ao poder de seguidores de sua filosofia, como os ex-ministros Abraham Weintraub (Educação), Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Ricardo Salles (Meio Ambiente), entre outros membros do primeiro escalão.
Sua influência foi tamanha que, no início do governo, chegava-se a dizer que a gestão Bolsonaro era dividida entre militares, políticos e seguidores de Olavo. O expurgo da ala olavista começou em meados de 2020, quando Bolsonaro se aproximou do Centrão e passou a se livrar do grupo, que se notabilizava por ataques ao Supremo Tribunal Federal e às instituições, o que gerava riscos de desestabilização institucional frequentes.
Na madrugada, o presidente Jair Bolsonaro lamentou a morte. “Nos deixa hoje um dos maiores pensadores da história do nosso país, o filósofo e professor Olavo Luiz Pimentel de Carvalho. Olavo foi um gigante na luta pela liberdade e um farol para milhões de brasileiros. Seu exemplo e seus ensinamentos nos marcarão para sempre”, escreveu o presidente.
https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1485857309985288202?s=20
Olavo, no entanto, vinha se distanciando da gestão Bolsonaro desde a guinada promovida pelo presidente no governo e chegou a dizer em dezembro passado que só votaria novamente em Bolsonaro em 2022 “por falta de alternativas”.
Seu discurso conservador, de direita e muitas vezes negacionista – principalmente em relação à vacina contra a Covid-19 (que não se sabe se ele tomou) –, também inspirou a movimentação da ala mais radical do bolsonarismo nas redes sociais. Na madrugada desta terça-feira, vários sites e perfis de direita lamentaram a morte do escritor. Olavo também tinha um curso de filosofia no YouTube, com milhares de alunos.
O pensamento de Olavo transita entre a filosofia, a teologia, a política e a crítica cultural. As abordagens que mais ganharam repercussão entre os seus seguidores brasileiros foram a repulsa à esquerda, o discurso conservador em relação a temas como família e propriedade e o combate ao que chamava de “marxismo cultural” e a uma orquestração globalista que visava destruir os valores ocidentais no mundo – um discurso em grande parte ligado ao pensamento da direita americana.
A família não deu informações sobre o velório e o enterro.