PEC da Segurança é o maior presente para facções no Brasil, afirma Caiado
Governador de Goiás é pré-candidato à Presidência da República e tem como uma de suas principais bandeiras o endurecimento da política de segurança

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), afirmou, nesta quarta-feira, 28, que a PEC da Segurança Pública proposta pelo ministro da Justiça do governo Lula, Ricardo Lewandowski, será, se aprovada pelo Congresso Nacional, um grande presente para as facções que atuam no território brasileiro na medida em que irá, segundo ele, concentrar o combate organizado na Polícia Federal.
“Em um parágrafo [a PEC determina que vai] transferir para a Polícia Federal o combate a facções e milícias. (…). A concentração na PF é para dizer: crime, PCC, Comando Vermelho, pode andar em paz. Essa PEC aqui vai liberar vocês total. Liberou geral. Aprove a PEC, tire poder dos estados, dos governadores, da Polícia Militar, da Polícia Civil. Isso é o maior presente que pode se dar às facções no país”, declarou o governador durante uma sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados.
Caiado — que é pré-candidato à Presidência da República para as eleições de 2026 e tem como principal bandeira o endurecimento das forças de segurança para combater o crime organizado — ainda deu outros exemplos de sucateamento da PF, que inviabilizariam, segundo ele, que ela executasse um bom trabalho de combate às facções no país.
“A Polícia Federal está desestruturada. Acabaram com a Polícia Federal. Ela acabou de receber uma determinação do governo federal de que todos os CACs [Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador] do Brasil saíram [da responsabilidade] do Exército e passaram para a PF. Não há estrutura funcional. Nós temos hoje, só em Goiás, 63.257 CACs. Sabe quantos delegados eu tenho em Goiás? 43 da Polícia Federal. E 138 agentes. A Polícia Federal inteira de Goiás tem 257 servidores. Eles sabem que a Polícia Federal, hoje, não tem mão de obra. A PF é eficiente, mas ela não tem mais competência. Ainda jogam serviço administrativo para ela. No Brasil, tem 962.272 CACs. Acabou. Eles destruíram a PF”, afirmou.
A PEC da Segurança Pública visa à integração de forças de segurança, com diretrizes e delimitações nacionais, e à constitucionalização do Fundo Nacional da Segurança Pública. Segundo Lewandowski, o objetivo dela é justamente o contrário do que disse Caiado: fortalecer o combate ao crime organizado. “Nossa ideia é fazer com que as forças de segurança se conversem (…). Temos que ter uma metodologia nacional, regras a serem cumpridas. Não podemos atacar essas mazelas [como o crime organizado] pontualmente. Temos que propor algo holístico e sistemático”, afirmou o ministro em São Paulo em um evento em abril.
Na época, o ministro também disse que já havia se reunido com diversos governadores para alinhar a proposta da melhor forma possível e reconheceu que precisa de ajuda do governo e de parlamentares para negociar com os chefes dos Executivos estaduais. Em crítica aberta aos governadores que criticam a PEC, sem citar ninguém especificamente, o ministro comparou o objetivo da medida ao funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS): “Ninguém reclama de interferência na autonomia [quando se trata da Saúde]”, disse.