Os desafios do pré-candidato tucano que dividiu a direita em Campo Grande
Disputa na capital do MS cria rusgas entre Bolsonaro, que decidiu apoiar Beto Pereira (PSDB), e aliados históricos, como a senadora Tereza Cristina (PP)
A pouco menos de três meses para as eleições municipais, Campo Grande (MS) é palco de intensas negociações que envolvem alguns dos maiores caciques nacionais. A edição de VEJA desta semana mostra como a disputa pela prefeitura virou campo de batalha para uma troca de caneladas entre partidos do próprio entorno de Jair Bolsonaro. O motivo da discórdia é Beto Pereira (PSDB), deputado federal e pré-candidato ao posto, que tem hoje o maior arco de alianças em torno de sua candidatura. Apesar do cacife, dizem políticos locais, a empreitada não está ganha.
A rusga teve início após o PL, legenda do ex-presidente, desistir de apoiar a atual prefeita, Adriane Lopes (PP), e embarcar na candidatura tucana, irritando de uma só vez dois importantes aliados e nomes da legenda: a senadora Tereza Cristina (PP-MS), que tem na capital sul-mato-grossense seu reduto eleitoral, e o senador e presidente nacional do PP Ciro Nogueira (PI). A escolha foi feita por Bolsonaro e referendada pelo presidente da legenda, Valdemar Costa Neto. “Tínhamos a nossa aliança, mas são estratégias partidárias do PL, sobre as quais não tenho interferência. Continuo e continuarei apoiando a nossa prefeita e candidata Adriane Lopes”, diz Tereza Cristina.
Contornadas as tensões iniciais, o PL somou-se, por fim, ao exército de aliados que engrossam a candidatura do tucano: o MDB dos ex-governadores André Puccinelli e Simone Tebet, o Podemos da senadora Soraya Thronicke e o PSD do ex-prefeito Nelsinho Trad.
Apesar da demonstração de força do acordo costurado pelo partido, que tem importantes quadros como o próprio governador Eduardo Riedel e o ex-mandatário Reinaldo Azambuja, o desempenho tucano nas articulações na capital, Campo Grande, não significa vitória. Em 2016, Marquinhos Trad (então PSD) venceu a vice-governadora Rose Modesto, do PSDB, que à época reunia amplo apoio em torno da sua candidatura. Já em 2020, Trad foi reeleito em primeiro turno e, em 2022, deixou o cargo para disputar o governo estadual — com a mudança, quem assumiu o posto foi a atual prefeita Adriane Lopes (PP), que agora pleiteia a reeleição.
A última corrida ao governo foi por si só curiosa. No primeiro turno, Riedel ficou nada menos do que em quarto lugar em Campo Grande, atrás de Trad, André Puccinelli e Capitão Contar. No segundo turno, no entanto, fortaleceu os grupos de apoio e venceu Contar, levando o Executivo estadual com vitória também na capital.
Adversárias
Por ora, quem figura em primeiro nas pesquisas eleitorais para a Prefeitura é Rose Modesto (União Brasil), que acaba de fechar uma tímida aliança com o PDT — a sigla, com a dança das cadeiras da política, tem hoje Marquinhos Trad como pré-candidato a vereador. A pré-candidata do União diz estudar ainda uma aliança com o PRD, fusão dos antigos Patriota e PTB.
“Em 2016, já fui o ‘Beto Pereira’ da história. Eu era vice-governadora, tinha praticamente todos os grandes partidos comigo, o apoio de quase toda a Assembleia Legislativa e da Câmara Municipal, além do governo do Estado. E perdi a eleição para um candidato que só tinha um partido com ele”, diz.
“A gente não subestima nenhum pré-candidato, porque tem máquina envolvida, tem os partidos, mas o eleitor de Campo Grande tem demonstrado, nas últimas eleições, que o critério de escolha para prefeito não foi quem tinha o maior apoio, nem o maior dinheiro e nem o maior número de alianças partidárias. É quem, de fato, consegue dialogar melhor com o eleitor. E por isso a nossa construção do plano de governo já tem trazido para nós um apoio muito forte da base, do chão, do eleitor”, afirma a pré-candidata.
A atual prefeita, Adriane Lopes, também aposta no revés eleitoral do adversário tucano. Segundo a última sondagem Paraná Pesquisas, a gestão municipal tem hoje 53,5% de desaprovação, contra 41% de aprovação. Para Lopes, o apoio da senadora Tereza Cristina e do eleitorado bolsonarista deverão contar a seu favor. “A aliança PP e PL era uma aliança que estava feita, e o PL decidiu apoiar o PSDB. Só esqueceram de combinar com o eleitorado da cidade”, diz Lopes. “Vou continuar do lado do presidente Bolsonaro”, ressalta.