Oposição pede ‘impeachment’ de Derrite por violência policial em SP
Secretário da Segurança Pública do governo Tarcísio de Freitas está sendo pressionado em razão da série de ocorrências envolvendo policiais militares

Deputados de oposição na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) apresentaram um pedido de impeachment contra o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, nesta sexta-feira, 6. O secretário está no centro da crise de segurança no estado após uma série de episódios de violência policial — e que coloca em xeque a política linha-dura do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O pedido, de iniciativa do deputado Guilherme Cortez (PSOL), teve a assinatura de toda a bancada do partido e a do PT, além da ratificação de parlamentares da Rede, PSB e PCdoB.
No pedido, protocolado junto a uma denúncia por crime de responsabilidade, o grupo afirma que a gestão da segurança em São Paulo sob a liderança de Derrite acumula “episódios de violência policial” que não são casos isolados e que a atuação da pasta tem ampliado o “sentimento de insegurança na população”.
“Os constantes casos de abuso cometidos por agentes policiais, amplamente relatados e divulgados pela imprensa ao longo dos anos de 2023 e 2024, são frequentemente tratados pela secretaria como ocorrências isoladas. No entanto, a repetição desses episódios revela um padrão que caracteriza a realidade da gestão atual: uma administração que, na prática, normaliza crises de insubordinação, omite-se frente ao aumento alarmante da violência policial e ignora o racismo perpetrado nos procedimentos policiais”, diz o documento.
O pedido expõe dados da letalidade policial no estado com base em balanços da própria secretaria: entre janeiro e 17 de novembro deste ano, 673 pessoas foram mortas por policiais militares no estado, um aumento de 46% em relação às 460 mortes registradas ao longo dos 12 meses do ano anterior.
Os deputados ainda citam dezenas de casos da brutalidade cometida pela polícia no estado, entre eles o do jovem de 26 anos morto a tiros por um PM ao furtar produtos de limpeza em um mercado, o assassinato de um estudante de medicina de 23 anos por um agente após uma discussão em um hotel e o caso mais recente de um entregador que foi arremessado de uma ponte, também por um policial militar.
Como justificativa adicional ao pedido de impeachment, os deputados citam a conduta de Derrite de afastar policiais envolvidos em casos irregulares por “curtíssimo espaço de tempo” para “avaliação superficial de seus superiores, retornando ao trabalho quase automaticamente”.
Impeachment
As legislações federal e estadual não dispõem especificamente sobre o impeachment de secretários de Estado. Os deputados de oposição que apresentaram o pedido de cassação de Derrite defendem a possibilidade com base em uma interpretação da lei atual.
Pela Constituição Estadual de São Paulo, é competência da Assembleia Legislativa receber e promover o processamento em caso de crime de responsabilidade do governador. Por “simetria”, dizem os parlamentares, o mesmo mecanismo deve ser ampliado para abarcar secretários de Estado, como é o caso de Derrite. Os deputados também citam a aplicação da simetria em relação à Constituição da República, segundo a qual cabe ao Senado o processamento de denúncias contra presidente, vice-presidente e ministros de Estado.
“Portanto, na esfera estadual, a competência para o processamento e julgamento do feito contra o governador do Estado, vice-governador e secretários de Estado é da respectiva Assembleia Legislativa, visto que o supracitado princípio aqui utilizado estabelece a obrigatoriedade de os entes federados internos (estados e municípios) reproduzirem os procedimentos estabelecidos pela Constituição da República Federativa do Brasil”, diz o pedido.