O roubo de um fuzil no berço militar de Bolsonaro e de muitos generais
Exército abre inquérito e impõe regime de aquartelamento na Academia Militar das Agulhas Negras

A Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) abriu um Inquérito Policial Militar para investigar o roubo de um fuzil FAL 7,62 mm de um soldado que estava de serviço no Batalhão de Comando e Serviços, na madrugada de domingo, 12. Em nota, a academia informou que militares de diversas patentes estão aquartelados “por questões de segurança e a fim de apoiar as investigações em curso”. “Os esforços de busca para recuperação do armamento e demais ações de investigação estão sendo conduzidos com o apoio dos órgãos de segurança pública”, afirma o texto. A Aman não informou o número de militares que estão aquartelados — nesse regime, eles não podem deixar a instituição.
A Aman é uma instituição militar de ensino superior que fica em Resende (RJ), que forma boa parte do alto oficialato do Exército brasileiro. Um dos seus alunos mais conhecidos foi o ex-presidente Jair Bolsonaro, que se formou na turma de 1977. A chegada de Bolsonaro ao Palácio do Planalto se deu no mesmo momento em que boa parte dos companheiros dos tempos da Aman ascendia ao topo da hierarquia: no início do seu governo, nove das quinze cadeiras do Alto-Comando do Exército eram ocupadas por generais oriundos das turmas de 1977, 1978 e 1979, entre eles dois que seriam ministros (Walter Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos) e um que seria comandante do Exército (Edson Pujol). Foi em uma formatura na Aman, em 2018, que Bolsonaro lançou a candidatura a presidente, aplaudido por centenas de militares perfilados para ouvi-lo — o gesto foi interpretado como um aval ao seu projeto eleitoral.
Este é o segundo extravio de armas de grosso calibre pertencentes ao Exército neste ano. Em setembro, 21 metralhadoras de grosso calibre foram furtadas da sede do Arsenal de Guerra, em Barueri (SP). Dezessete delas já foram recuperadas. Nove metralhadoras foram encontradas em São Roque, no interior de São Paulo, e outras oito foram recuperadas no Rio de Janeiro. A suspeita é que o armamento seria negociado com integrantes de facções criminosas, como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC). O Exército apura a participação de ao menos um militar no extravio do armamento.
Leia a íntegra da nota da Aman
“A Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) informa que, por volta das 2h50min do dia 12 de novembro de 2023, um Fuzil FAL 7.62mm foi roubado de um soldado que estava de serviço na área do Batalhão de Comando e Serviços (BCSv).
O Comando do Batalhão determinou a instauração de um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar as circunstâncias do ocorrido e identificar os responsáveis. Os esforços de busca para recuperação do armamento e demais ações de investigação estão sendo conduzidos com o apoio dos órgãos de segurança pública.
Por questões de segurança e a fim de apoiar as investigações em curso, os militares do Batalhão permanecem aquartelados.”