O plano de Leite para encontrar a ‘espinha dorsal’ do enfraquecido PSDB
Governador do Rio Grande do Sul e presidente do partido diz que vai buscar coesão interna a partir de pesquisas e debates na sigla

NOVA YORK — Em meio à perda de relevância política do PSDB, que elegeu uma bancada pequena na Câmara dos Deputados e perdeu o governo de São Paulo após 28 anos, o presidente do partido, Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, prepara um plano para identificar a “espinha dorsal” do enfraquecido tucanato.
Como mostra reportagem de VEJA desta semana, Leite contratou uma consultoria que vai realizar pesquisas e debates internos, em um movimento para tentar criar alguma coesão no partido. O passo seguinte, depois de definido esse perfil programático, em alguns meses, é a comunicação dos seus traços à sociedade.
“A oportunidade dada por uma crise a um partido que reduziu participação no Congresso e que não tem mais o governo de São Paulo, que era uma força, uma potência, uma alavanca, é justamente nos impor fazer uma revisão interna. É nisso que quero ajudar o partido, como presidente nacional: fazer o processo de discussão interna sobre qual é a espinha dorsal do pensamento político, econômico, visão de futuro, quais são as pautas que nos unem”, disse Leite a VEJA após o LIDE Brazil Investment Forum, em Nova York, na última terça-feira, 9.
Sobre as razões que levaram o PSDB a encolher, Eduardo Leite avalia que o partido passou por um momento de confusão após perder para Jair Bolsonaro o “protagonismo no antagonismo” ao PT, em 2018. A avaliação do governador gaúcho é que algumas lideranças da sigla, sobretudo do Congresso, pensaram que, se os tucanos sempre foram os antagonistas do petismo e esse antagonista se tornou Bolsonaro, isso geraria alguma identificação e aproximação do tucanato com o ex-presidente – o que Leite rechaça.
Enquanto partidos como PSD, Republicanos e PL buscam avançar sobre o valioso espólio de prefeituras do PSDB em São Paulo, Leite vê como normal assédio e prevê, como um todo, uma redução no número de prefeituras sob a sigla nas eleições municipais de 2024. “O PSDB tinha o governo do estado. Ao não ter mais, fica especialmente terreno aberto para outros partidos dentro do nosso campo político buscarem esses prefeitos”, reconhece.
Sobre as eternas divergências internas do PSDB, o presidente tucano diz que há na sigla pensamentos diferentes, como em qualquer lugar, e atribui o histórico de bicadas no ninho ao fato de ser um partido que sempre buscou protagonismo nacional e tinha quadros disputando internamente entre si.
“Dentro do centro, o PSDB é um dos poucos que têm vocação para buscar protagonismo em cargos majoritários, em governos estaduais relevantes, governo federal, é do DNA do PSDB. Esse protagonismo traz também maior debate e disputa interna entre atores políticos, mas não podemos deixar isso ser uma fragilidade. Se o partido não tivesse votação para buscar um cargo majoritário ao governo federal, presidência da República, talvez não tivéssemos conflitos internos. Seria mais fácil acomodar as aspirações individuais”, afirmou o governador a VEJA.