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Por José Benedito da Silva Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
A política e seus bastidores. Com Laísa Dall'Agnol, Victoria Bechara, Bruno Caniato, Valmar Hupsel Filho, Isabella Alonso Panho e Ramiro Brites. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

‘O PCC é um dos maiores players da cocaína’, diz porta-voz da Europol

De acordo com Jan Op Gen Oorth, da polícia da União Europeia, a cooperação com o Brasil nas investigações precisa ser estreitada

Por Isabella Alonso Panho Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 jun 2024, 15h50 - Publicado em 29 jun 2024, 09h05

O tráfico internacional de cocaína, viabilizado em parte pelo crime organizado brasileiro, em especial a facção Primeiro Comando Capital (PCC), é uma das preocupações de autoridades nacionais e internacionais, como mostra reportagem de VEJA. Estima-se que na Colômbia seja produzidas de 2.000 a 2.500 toneladas por ano do entorpecente com destino à Europa, saindo pelos portos de Guaiaquil (Equador) ou do Brasil, principalmente o de Santos.

Em entrevista a VEJA, Jan Op Gen Oorth, porta-voz e consultor sênior da Europol, a polícia da União Europeia, alerta para a necessidade de construção de uma rede global de enfrentamento ao crime organizado, que se globalizou na mesma medida que o comércio de produtos legais. “As máfias trabalham juntas e tratam o crime como negócio”, afirma Oorth.

Leia a entrevista a seguir:

Traficantes brasileiros e europeus estão usando novas rotas através dos países dos Bálcãs para levar cocaína para a Europa? Há um crescente impacto provocado pelos cartéis dos Bálcãs  no tráfico internacional de cocaína, mas o entorpecente não entra necessariamente pelos países de lá. Quando falamos do envolvimento de grupos dos Bálcãs, falamos de ex-Iugoslávia, Sérvia, Montenegro e Croácia, todos muito envolvidos com o comércio global de cocaína. Nos anos 1980 e 90 prevalecia o crime organizado da Itália e os cartéis colombianos. Porém, da mesma forma que a economia se globalizou, o tráfico se globalizou também. Hoje há uma grande quantidade de grupos envolvidos. Tivemos um exemplo disso na semana passada, com a ação polícias da Croácia, da Sérvia, dos países dos Bálcãs, do Brasil, da Espanha, da Turquia e a Europol, forças de três continentes trabalhando juntas em um caso. Eu diria que comércio mundial de cocaína é muito mais internacional, com mais grupos e mais países envolvidos do que no passado.

“Os cartéis colombianos evitam exportar a cocaína através da Colômbia, porque nos portos europeus, como Roterdã e Hamburgo, se um navio chega da Colômbia, ele tem mais chances de ser inspecionado”

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Como funciona a rota da cocaína que sai da América Latina? A cocaína não é produzida no Brasil. Ela é cultivada, quase que exclusivamente, na Colômbia, que tem de 80% a 90% da produção. Peru e Bolívia também produzem. A maior parte da cocaína é enviada de navio através do porto de Guaiaquil, no Equador, mas os portos brasileiros também são usados. Por meio de rios bolivianos, às vezes pelo Paraguai, a cocaína da Bolívia é escoada até o Brasil, que é um país muito bonito e com uma longa costa cheia de cidades e portos. Há muitas oportunidades logísticas para o envio da cocaína, usando o oeste da África como “hub” ou indo direto para a Europa. Os carteis colombianos evitam exportar a cocaína através da Colômbia, porque aqui nos portos europeus, como Roterdã e Hamburgo, se um navio chega da Colômbia, ele tem mais chances de ser inspecionado, devido ao histórico de tráfico.

FORÇA-TAREFA - Agentes europeus e brasileiros na recente operação conjunta: quarenta presos em seis países
Agentes europeus e brasileiros na operação conjunta de 12 de junho: quarenta presos em seis países (Europol/Divulgação)

A Europol está investigando o PCC? A ação do grupo brasileiro na Europa aumentou nos últimos anos? Os cartéis colombianos vendem a cocaína aos brasileiros ou pagam para que eles façam o serviço logístico de mandar a droga para a Europa. Tivemos duas grandes operações ano passado envolvendo o PCC. Uma envolvendo a ‘Ndranghetta, da Calábria, máfia italiana mais forte no tráfico de cocaína. A outra ação foi em outubro passado. Dezesseis pessoas foram presas pela Polícia Federal brasileira e pelos parceiros europeus. O PCC é um dos maiores players do Brasil no tráfico de cocaína. 

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Uma operação da Europol em 12 de junho prendeu quarenta pessoas, inclusive do Brasil. Quantos foram e onde os brasileiros foram presos? Essa operação foi muito complexa. A investigação durou mais de três anos e envolveu pelo menos dez forças policiais diferentes, como, além da polícia do Brasil, a Guarda Espanhola, as polícias da Croácia, da Sérvia, da Turquia, de Dubai e dos Emirados Árabes, ou seja, de três continentes – Europa, América Latina e Ásia. As prisões aconteceram no Brasil, na Alemanha, na Sérvia e na Croácia, o que mostra claramente quão global essa rede é. Parte dos brasileiros estava no Ceará e em São Paulo. 

“Temos um problema criminal global. Por isso, precisamos de uma solução global. Reunimos as informações da inteligência de todos e as juntamos como peças de quebra-cabeças”

Alguns críticos afirmam que o combate ao tráfico internacional de drogas aqui no Brasil ainda está muito restrito às nossas fronteiras. Como funciona a cooperação das autoridades brasileiras com a Europol? O Brasil é um player importantíssimo, por causa do tamanho do país, por causa da quantidade de droga exportada e da quantidade de portos que tem. Exportar cocaína do Brasil é muito atrativo, por causa da longa costa e dos muitos portos. A cooperação com o Brasil é primordial. A Europol funciona como a organização que articula todos esses parceiros juntos. O Brasil não cooperaria com a Sérvia em condições normais. Nem com a Croácia ou Dubai. Talvez com os EUA, Portugal, Espanha, Argentina, Bolívia e Colômbia. Porém, nos temos um problema criminal global. Por isso, precisamos de uma solução global. Reunimos as informações da inteligência de todos e as juntamos como peças de quebra-cabeças. A Europol tem um acordo estratégico com o Brasil, que permite a troca de informações estratégicas. Porém, não temos um acordo operacional, por isso não podemos trocar dados operacionais. Eu diria que o Brasil é um parceiro extremamente importante no combate mundial contra o tráfico de cocaína, e só se pode combater uma rede com outra rede ainda mais forte. 

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