O maior desastre do PT em uma das maiores capitais do país
Caciques do partido bancaram candidatura que não decolou
O desempenho do candidato Geraldo Júnior (MDB) na eleição para a prefeitura de Salvador expôs a derrota de lideranças do PT na Bahia, que abdicaram de lançar candidatura própria e apadrinharam o emedebista, um neófito no campo da esquerda. Geraldo Júnior, no entanto, não decolou, viu o concorrente direto Bruno Reis (União Brasil) ser reeleito no primeiro turno e ainda ficou em terceiro na disputa, atrás de Kleber Rosa, do Psol, partido que até então tinha votação residual na capital baiana.
O resultado da votação do emedebista refletiu as decisões tomadas ao longo da campanha pelo grupo político que governa o estado desde 2007. O nome de Geraldo Júnior foi referendado após uma divisão entre as duas principais lideranças do PT no Estado, o senador e líder do Governo no Congresso, Jaques Wagner, e o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT) – ambos governaram o estado por oito anos, cada um.
Wagner bancou a indicação de Geraldo, atual vice-governador de Jerônimo Rodrigues (PT), enquanto Costa, que preferia um nome do próprio partido, foi voto vencido. Geraldo então foi confirmado, mas não conseguiu dispersar a sombra de desconfiança dentro do próprio grupo.
Isso porque Geraldo Júnior é um político forjado no grupo opositor na Bahia. Até pouco antes da eleição de 2022, ele era aliado do próprio Bruno Reis e de seu antecessor, ACM Neto (União Brasil). Rompeu para entrar na campanha de Jerônimo, como vice, num acordo costurado pelos irmãos Geddel e Lúcio Vieira Lima, que comandam o MDB na Bahia. Na eleição anterior, era apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O PT escalou Fabia Reis, uma militante da causa da igualdade racial, para a vice de Geraldo na tentativa de atrair a militância. Nos bastidores, no entanto, lideranças do PT soteropolitano deixavam claro o silêncio constrangedor que tiveram que adotar para apoiar Geraldo por falta de aderência às pautas de esquerda.
Wagner participou de agendas em Salvador para reforçar a candidatura do emedebista. Já o ministro Rui Costa deu mais atenção aos candidatos do grupo no interior do estado. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não apareceu na capital baiana durante o período eleitoral.
Durante a campanha, entretanto, o emedebista foi obrigado a gastar um tempo precioso, em entrevistas, sabatinas e debates, para convencer os eleitores de que era legítima sua “mudança” ideológica e a adesão recente às pautas de esquerda. Não convenceu.