O longo silêncio de Filipe G. Martins nas redes sociais
Assessor do presidente Jair Bolsonaro para assuntos internacionais e antes um dos porta-vozes do olavismo está há quatro meses sem falar nada no Twitter
Um dos mais aplicados discípulos do escritor Olavo de Carvalho e uma das vozes mais ideológicas do governo Jair Bolsonaro, o assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Filipe G. Martins, vive uma espécie de autoexílio nas redes sociais. A ausência chama a atenção porque ele era um dos mais ativos nas redes sociais e já foi apontado, em investigações variadas, como um dos principais articuladores da militância digital bolsonarista.
O silêncio no Twitter, por exemplo, onde ele tem 416 mil seguidores, já dura quatro meses. O seu último post é datado, sintomaticamente, de 7 de setembro, quando celebrou a grande adesão às manifestações de apoio ao presidente Jair Bolsonaro — e de caráter amplamente antidemocrático, com ataques ao Supremo Tribunal Federal e ao Congresso Nacional.
A oposição e parte da imprensa estão bancando o Groucho Marx mais uma vez e mandando um "Afinal, vocês vão acreditar em mim ou nos seus próprios olhos?" para os brasileiros que viram as imagens de multidões gigantescas e sem precedentes em Brasília, em SP, no RJ e em todo o país.
— Filipe G. Martins (@filgmartin) September 7, 2021
A “despedida” data de 15 de setembro, quando retuitou um artigo seu no portal olavista Brasil sem Medo, no qual denuncia o avanço do que entende ser um “projeto de implementação do totalitarismo tecnocrático informatizado” e conclui como uma série de recomendações, entre elas: “Não deposite sua esperança em governos; não deposite suas esperanças em políticos”.
O seu sumiço também ocorreu nas outras redes sociais onde tem número expressivo de seguidores, como a rede trumpista Gettr (último post no dia 28 de junho de 2021) — para falar do assassino em série Lázaro Barbosa, morto pela polícia em Goiás.
Martins viu a sua influência no gabinete presidencial minguar desde que Carlos França assumiu o Ministério das Relações Exteriores no lugar de Ernesto Araújo (também olavista e principal aliado do assessor na Esplanada) e retomou a agenda pragmática de uma pasta até então dominada pelos delírios ideológicos do bolsonarismo.
Além disso, Martins tornou-se alvo do inquérito das fake news do STF sob suspeita de integrar o chamado “gabinete do ódio” e respondeu a um processo por racismo depois de ter sido flagrado dentro do Senado fazendo um gesto associado aos supremacistas brancos dos EUA — a sua última publicação no Facebook (31 de março de 2021), onde tem mais de 62 mil seguidores, foi para se defender dessa acusação. Ele acabou absolvido.
Interlocutores dentro do bolsonarismo reputam a esses dois fatores (prestígio em baixa e o peso da mão forte da Justiça) o silêncio de Martins nas redes sociais. Mas, apesar do conselho que dá a seus leitores para não ter esperança em governos ou políticos, Martins não parece ter do que reclamar. Continua formalmente empregado como chefe da assessoria de assuntos internacionais do Palácio do Planalto com um salário de 16,9 mil reais.