O ‘arranjo’ que deu ministério ao Republicanos manteve Tarcísio na sigla
Partido diz que se mantém independente no Congresso mesmo após nomeação de Silvio Costa Filho para a pasta de Portos e Aeroportos
O arranjo encontrado pelo Republicanos para emplacar um ministro na Esplanada sem aderir oficialmente, ao menos por ora, ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva arrefeceu os ânimos do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, de deixar a legenda. Segundo aliados, ele ficou satisfeito com a solução encontrada, na qual o agora ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, teve que se licenciar do partido para assumir a pasta — a sigla continua declarando-se independente no Congresso.
A sinalização de que o Republicanos iria compor o governo Lula incomodou o governador paulista. No início de agosto, quando as negociações para a nomeação de Silvio Costa Filho já estavam adiantadas, Tarcísio tornou público seu incômodo e admitiu a possibilidade de se desfiliar da legenda durante evento no Palácio dos Bandeirantes. “Sou contra”, disse. “Não quero ver meu partido fazendo parte da base do governo. Isso é uma coisa que vou avaliar com o partido”, disse.
No dia seguinte, ele se reuniu com o presidente do Republicanos, Marcos Pereira, aumentando as especulações em torno da possibilidade de desfiliação do governador. Tarcísio é tido como principal nome para uma eventual candidatura do partido à Presidência em 2026, embora ele tenha dito que prefere se concentrar no seu mandato.
Dirigentes do Republicanos passaram a vocalizar que a nomeação de Silvio Costa Filho seria uma indicação pessoal de Lula, e não do partido, e que a legenda permaneceria “independente”. Pesou o argumento de que Costa Filho tem relação pessoal com o presidente e foi o único deputado do Republicanos a declarar voto no petista na eleição presidencial do ano passado – o partido compôs a chapa de Jair Bolsonaro. No dia seguinte à confirmação da indicação, a sigla divulgou nota para referendar a posição.
Costa Filho tomou posse nesta quarta-feira, 14, em uma cerimônia que durou menos de meia hora, sem a presença do presidente Lula. Ao discursar, dirigiu-se a seu antecessor no cargo, Márcio França, e afirmou: “Nós fazemos parte do time do presidente Lula e vamos estar juntos para ajudar o Brasil”.
Aliados de Tarcísio consideram que ele saiu vitorioso dessa negociação porque conseguiu marcar posição e, de quebra, ainda afastou do ministério um possível adversário político caso queira se candidatar à reeleição. Márcio França, que já foi governador do Estado, tem base política na Baixada Santista, onde está localizado o Porto de Santos.
O entorno do governador também avalia que França barrou a negociação em torno da privatização do Porto de Santos por questões políticas e que a entrada de Costa Filho pode melhorar o diálogo neste sentido. Repassar o porto à iniciativa privada é uma das bandeiras do governador paulista. O novo ministro, entretanto, já disse que também é contra a privatização do porto.