MPF vai investigar se o Banco do Brasil apoiou a escravidão no século XIX
Em nota, instituição diz que atua para promover igualdade racial e esforços de reparação histórica

O Ministério Público Federal instaurou uma investigação para apurar a relação entre o Banco do Brasil e a escravidão no século XIX. O MPF quer que a estatal esclareça se lucrou com o tráfico de pessoas negras escravizadas e se apoiou essa prática por agentes privados.
O inquérito civil público foi instaurado a pedido de integrantes da comunidade acadêmica e faz parte de um esforço investigativo para mapear a responsabilidade de instituições brasileiras em relação ao comércio escravagista.
Movida por quinze historiadores ligados a universidades brasileiras e estrangeiras, o pedido de investigação exige que o banco forneça informações sobre o financiamento do tráfico de escravos e a capitalização do próprio BB com a prática no período imperial, além de se posicionar oficialmente a respeito dessa relação econômica e informar as suas iniciativas de apuração e reparação histórica. A notificação dá o prazo de 20 dias para o envio dos documentos — em 27 de outubro, a presidência do Banco do Brasil e os acadêmicos devem se reunir na Procuradoria da República no Rio de Janeiro.
Uma das organizações mais antigas da história nacional, o Banco do Brasil foi criado em 12 de outubro de 1808, mesmo ano em que o rei Dom João VI e sua corte se mudaram de Portugal para terras brasileiras. Uma crise financeira obrigou o banco a fechar as portas duas décadas depois e, quando foi refundado, em 1853, tinha entre seus acionistas alguns dos maiores traficantes de negros escravizados do Brasil. “As subscrições para a integralização do capital do banco provinham dessas atividades, sendo que as maiores fortunas do Rio de Janeiro estavam claramente associadas ao comércio transatlântico de africanos”, explicam os procuradores Aline Caixeta, Jaime Mitropoulos e Julio José Araujo Junior.
Em nota divulgada à imprensa, o Banco do Brasil defende que a reparação histórica pela escravidão é responsabilidade de toda a sociedade e afirma estar “à disposição do MPF para continuar protagonizando e envolver toda a sociedade na busca pela aceleração deste processo”. A instituição também diz estar comprometida com a inclusão racial e o combate à discriminação, listando parcerias firmadas com o Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), o Ministério da Igualdade Racial e a Universidade Zumbi dos Palmares.
(Com Agência Brasil)