Morte de indígena na BA: Jerônimo critica ‘justiça com as próprias mãos’
Governador pede paz na região onde uma líder pataxó foi assassinada após conflito com grupo de fazendeiros intitulado 'invasão zero'

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), afirmou nesta terça-feira, 23, que não vai admitir que grupos ou pessoas “façam justiça com as próprias mãos” ao comentar a morte da líder indígena pataxó Hã Hã Hãe Maria de Fátima Muniz, conhecida como Nega Pataxó. O crime ocorreu no domingo, 21, na terra indígena Caramuru-Catarina Paraguaçu, no sul da Bahia, após conflito entre indígenas e um grupo de fazendeiros intitulado “invasão zero”, que tentava recuperar terras que haviam sido ocupadas.
Na confusão, outros dois indígenas foram baleados e diversos foram hospitalizados com ferimentos. Um fazendeiro foi atingido por uma flechada no braço. Dois ruralistas foram presos, incluindo o suspeito de ser o autor dos disparos. Um indígena que portava uma arma artesanal também foi detido, de acordo com a Polícia Militar da Bahia.
A morte de Nega Pataxó foi o segundo assassinato de indígena da etnia pataxó Hã Hã Hãe em menos de 30 dias na região, que tem histórico de conflitos agrários. No final de dezembro, o cacique Lucas Pataxó Hã Hã Hãe também foi morto a tiros. Os autores ainda não foram identificados.
Jerônimo disse que se já reuniu com representantes do Ministério Público, Tribunal de Justiça da Bahia, Defensoria Pública e Polícia Federal para fazer um “colchão” de proteção para garantir a paz na região. “O meu comportamento será o de garantir a tranquilidade, o equilíbrio entre as forças. Não dá pra a gente ficar aguardando para que movimentos ou pessoas façam justiça com as próprias mãos, pois dá nisso no que deu”, afirmou, durante a solenidade de lançamento de um programa do governo do Estado.
“Milícia”
O governador evitou utilizar o termo “milícia”, usado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) em carta pública de apoio ao povo pataxó, divulgada no dia seguinte ao crime. O MST classificou o episódio como um “ataque miliciano de latifundiários contra a luta justa daquele povo”, e lembrou que o mesmo grupo já havia atacado os indígenas em 2023. “Eu respeito a posição de qualquer movimento, seja de fazendeiros, de movimento sem-terra, de indígenas. Eu respeito, é a fala de uma entidade. Na condição de governador, eu tenho que respeitar. O que eu não posso é administrar qualquer tipo de desbalanceamento com relação às atitudes”, disse.
Jerônimo afirmou ainda esperar que o governo federal, por meio de órgãos como Incra e Funai, encontrem um “meio-termo” para resolver a questão fundiária na região. “Quando regulariza as terras, evita conflitos. Enquanto não se regulariza, vemos atitudes como essas”, afirmou.
Polícia Militar
A atuação da Polícia Militar da Bahia neste episódio foi criticada pelos indígenas e por entidades que os representam. Durante visita ao local do conflito, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, ouviu relatos de indígenas de que a PM-BA teria sido conivente com o ataque dos fazendeiros, que não tinham mandado de reintegração de posse das terras. Em ofício encaminhado a diversas autoridades, a Associação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) pede que sejam instaurados procedimentos criminais para investigar a atuação de policiais militares no episódio.
O deputado estadual do Rio de Janeiro e ex-ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, republicou um vídeo que acusa a PM da Bahia de conivência. “Que horror! Alô governador da Bahia! Há que agir fortemente. PM vendida!”, escreveu, em postagem feita nesta segunda-feira, 22, em seu perfil nas redes sociais.