Morre o coronel que comandou repressão contra a Guerrilha do Araguaia
Sebastião Curió Rodrigues de Moura, acusado de crimes na ditadura militar, faleceu aos 87 anos num hospital em Brasília

Morreu no hospital Santa Lúcia em Brasília, na madrugada desta quarta-feira, 17, Sebastião Curió Rodrigues de Moura, mais conhecido como Major Curió. O coronel da reserva do Exército foi responsável por comandar a repressão à Guerrilha do Araguaia na ditadura militar (1964-1985). A morte foi confirmada pela assessoria do hospital, mas não foi divulgada a causa do falecimento.
Curió esteve vinculado ao Centro de Informações do Exército (CIE) e serviu na região do Araguaia, onde esteve no comando de operações em que guerrilheiros do Araguaia foram capturados, conduzidos a centros clandestinos de tortura, executados e desapareceram. Em 2009, ao jornal O Estado de S. Paulo, Curió afirmou que o Exército executou 41 pessoas no Araguaia. Ele também participou da Operação Sucuri, em 1973, e comandou o posto de Marabá (PA) durante a Operação Marajoara, de outubro de 1973 ate o final de 1974.
O militar foi denunciado pelo Ministério Público Federal por homicídio e ocultação de cadáveres durante o combate à guerrilha e está entre os 377 ex-agentes de repressão acusados de crimes contra a humanidade pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) em 2014. “[Os crimes] foram comprovadamente cometidos no contexto de um ataque sistemático e generalizado contra a população civil brasileira, promovido com o objetivo de assegurar a manutenção do poder usurpado em 1964, por meio da violência”, afirmou o MPF.

No entanto, ele nunca sentou no banco dos réus. Após ser convocado em três oportunidades pela CNV, apresentou atestado médico para justificar a impossibilidade de comparecimento, não tendo sido acolhida oferta da Comissão para coleta de depoimento domiciliar ou hospitalar.
Por outro lado, o coronel compareceu a um encontro com o presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2020, no Palácio do Planalto.
Em março de 2022, um levantamento do Instituto Vladimir Herzog em parceria com VEJA mostrou que ao menos 269 acusados de crimes na ditadura morreram sem ser julgados. Restavam 98 vivos, dos quais 10 não se tem informação. Quase cinco meses depois, o número de sobreviventes caiu para 95.