Moro cita ‘sabotagem’ e diz que deixou ministério para ‘não ser cúmplice’
À rádio Capital FM, de Cuiabá, ex-juiz afirma que Bolsonaro queria que ele protegesse a família presidencial das investigações da PF e da Receita Federal
O ex-juiz Sergio Moro, agora pré-candidato a presidente da República pelo Podemos, disse nesta quarta-feira, 29, em entrevista à rádio Capital FM, de Cuiabá (MT), que o presidente Jair Bolsonaro queria que ele, como ministro da Justiça, “fizesse coisa errada”, como proteger a família presidencial de investigações em andamento.
“O presidente queria que eu fizesse coisa errada. Eu fui para o governo com a expectativa de que teria o apoio do presidente, mas, a partir de determinado momento, passei a sofrer até sabotagem”, afirmou. Segundo ele, foi lhe dada a escolha de “ficar como cúmplice de coisa errada” ou deixar o cargo.
“O próprio presidente reclamou esses dias dizendo que eu não protegia a família dele da Polícia Federal, da Receita Federal, o que é um absurdo. Ninguém tem que ser protegido de nada. Se alguém cometeu coisa errada, tem que ser investigado e a pessoa tem que ser responsabilizada’, disse.
“Ninguém tem que ser protegido de nada. Se alguém cometeu coisa errada, tem que ser investigado e a pessoa tem que ser responsabilizada”
Sergio Moro, em entrevista à rádio Capital FM, de Cuiabá
Ironicamente, a declaração vem um dia após ele ter criticado o pedido de investigação feito pelo procurador Lucas Rocha Furtado, do Tribunal de Contas da União (TCU), para que fosse investigado quanto Moro recebeu pelo contrato que manteve com a consultoria americana Alvarez & Marsal, que atua como administradora da recuperação judicial da Odebrecht, uma das companhias mais afetadas pelas decisões de Moro quando era juiz da Lava Jato.
“Repudio as insinuações levianas do procurador do TCU a meu respeito e lamento que o órgão seja utilizado dessa forma”, escreveu o ex-juiz, em sua conta no Twitter após o pedido de investigação.
Após pedido do procurador, o ministro Bruno Dantas, do TCU, pediu que a Alvarez & Marsal e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) informassem quanto Moro recebeu durante o contrato, além de todos os processos de recuperação udicial em que a consultoria atuou desde 2013. Na entrevista, Moro não foi questionado sobre a decisão do TCU.
Corrupção
Na entrevista, Moro também atacou Bolsonaro – que “desmantelou o combate à corrupção”— e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – em cujo governo teriam ocorrido “os maiores escândalos de corrupção da história do país” – e insistiu na proposta de criar o Tribunal Nacional Anticorrupção, com “servidores e juízes vocacionados” para enfrentar o problema.
Sobre a eleição presidencial, Moro afirmou que está disposto a conversar com todos os outros pré-candidatos que não sejam Moro e Bolsonaro, mas disse que ainda é cedo para definir a formação de chapas para 2022.