Mesmo após derrotas e embate no Senado, Marina não cogita deixar o governo
Segundo interlocutores de seu partido, o Rede Sustentabilidade, ministra acredita que se manter na gestão ajuda a 'evitar um mal maior' na área ambiental

Mesmo após sofrer derrotas dentro do governo Lula e ser abandonada por parlamentares da base governista durante depoimentos no Congresso Nacional — sendo criticada dura e intensamente pela oposição sem que houvesse um contraponto –, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, não cogita abandonar a pasta, segundo interlocutores do partido Rede Sustentabilidade ligados à ministra.
Em 2008, a ministra deixou o mesmo cargo após sofrer várias derrotas internas, principalmente em relação a grandes projetos de infraestrutura, como os de usinas hidrelétricas, que tinham o aval do governo Lula. “Descarte completamente a possibilidade de Marina Silva sair do Ministério do Meio Ambiente. Não existe isso no radar. Nem de longe é cogitado, nem internamente. A saída dela no outro governo Lula tinha um contexto político completamente diferente”, declarou uma das fontes.
A escolha da ministra passa pelo destaque da pauta ambiental no contexto internacional, no qual o presidente Lula faz questão de manter protagonismo e reforçar a parceria entre eles. “Ela vê o presidente Lula como grande fiador da pauta ambiental nesse contexto e reconhece um esforço e um empenho dele”, disse a fonte. “Para ela, isso é central. Não são coisas indissociadas, a agenda doméstica e a presença do Brasil no cenário internacional, nos fóruns globais e na perspectiva de uma agenda de transição para o mundo. Esse é um ativo na relação deles“.
No entanto, Marina Silva também entende que a pauta ambiental ainda deve sofrer outras derrotas — o que para ela não é uma questão pessoal, mas conjunta, da gestão Lula e do campo progressista –, já que o atual governo é formado, desde o início, por forças distintas e até antagonistas em alguns temas. “Ela acredita em Lula. E, numa correlação de forças desfavorável, o papel dela é trabalhar para evitar um mal maior, evitar derrotas maiores, mitigar danos. É melhor ela estar no ministério do que não estar”, avaliou um conselheiro político da ministra.
Nos últimos dias, Marina viu avançar o processo para autorizar a Petrobras a explorar petróleo na Bacia da Foz do Amazonas — atividade a que ela se opõe — e acompanhou também o Senado aprovar por larga margem várias mudanças que flexibilizam as regras de licenciamento ambiental.
Ainda assim, compreendendo a quebra-de-braço interna existente, Marina não se queixa em nenhum momento de que lhe falte apoio do governo, nem mesmo em conversas privadas com assessores e funcionários do Ministério do Meio Ambiente. Por outro lado, há membros da equipe dela que entendem que a agenda ambiental “tem sido fritada” e usada como moeda de barganha muitas vezes, principalmente no Congresso Nacional.
Na terça-feira, 28, a ministra abandonou uma sessão da Comissão de Infraestrutura do Senado após ouvir do senador Plínio Valério (PSDB-AM) que ela “não merece respeito” — em mais um episódio em que pareceu estar isolada dentro do governo. Logo depois do incidente, a ministra foi até o outro lado do Congresso para se encontrar com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), junto com parlamentares ambientalistas. O objetivo era entregar um documento para convencer a Casa a não aprovar de pronto as novas regras do licenciamento ambiental que passaram no Senado. O deputado federal Nilto Tatto (PT-SP), que a acompanhou nessa agenda, reforçou o que VEJA ouviu de assessores de Marina, que ela não fez qualquer menção a deixar a pasta depois das agressões que sofreu. Segundo ele, muito pelo contrário: Marina se mostrou empenhada em continuar batalhando pela questão do licenciamento.