Marconi Perillo, novo presidente do PSDB: ‘Perdemos espaço por vaidades’
Tucano assume cargo com desafio de reestruturar legenda friccionada e enfraquecida eleitoralmente e defende Eduardo Leite como presidenciável em 2026
Escolhido novo presidente do PSDB na semana passada, o ex-governador de Goiás Marconi Perillo assume o cargo com o considerável desafio de reestruturar uma legenda friccionada internamente e enfraquecida no cenário político nacional.
Sem candidato à Presidência da República na última eleição — a primeira vez desde que o partido foi fundado –, o PSDB saiu menor do que entrou nos pleitos federal e estaduais: elegeu apenas dezoito deputados federais, diminuindo sua relevância no Congresso, perdeu o governo de São Paulo após 28 anos de hegemonia tucana e tem visto uma debandada de prefeitos Brasil adentro.
A VEJA o novo presidente fala sobre o desejo de reinserir o PSDB na cena nacional e da necessidade de a sigla fazer uma autocrítica. “É preciso chamar à realidade que perdemos muito espaço nos últimos anos. E, se perdemos, foi por causa de alguns equívocos, mas sobretudo por vaidades. É preciso que todo mundo calce as sandálias da humildade e coloque mãos à obra, buscando unidade”, diz Perillo.
O tucano ainda fala da preocupação da legenda com as eleições municipais do próximo ano e com a ampliação do número de prefeituras — e afirma que o governador gaúcho Eduardo Leite é o candidato “natural” da sigla à Presidência em 2026. “Cometemos um equívoco histórico na eleição de 2022 em não lançar candidatura própria. Muitos de nós tivemos dificuldades regionais por não termos tido candidato”, diz Perillo.
Quais serão os seus primeiros passos à frente do PSDB? Temos muitos desafios, começando por discutir a questão programática para as eleições municipais de 2024. O partido não pode focar apenas em buscar candidaturas, mas também em fortalecer a nossa estrutura no interior do país, debatendo temas que serão importantes para as cidades. Vamos instituir comissões que serão encarregadas de formalizar políticas para temas como educação, meio ambiente, infraestrutura. Vamos procurar estruturar melhor o partido em estados em que ele praticamente não existe.
Há hoje uma certa fricção interna da legenda. Haverá uma busca por conciliação? É preciso buscar superar feridas que ficaram expostas por causa das prévias que ocorreram no ano passado. É preciso buscar unidade das bancadas, fortalecer as lideranças que de fato têm voto, que têm importância histórica, que ajudaram a construir o partido. Conversar com todo mundo do partido, chamar à realidade de que perdemos muito espaço nesses últimos anos. E, se perdemos, perdemos por causa de alguns equívocos, mas sobretudo por conta de vaidades. É preciso que todo mundo calce as sandálias da humildade e coloque mãos à obra, buscando a unidade em torno de propostas, daquilo que for mais importante para o partido e para o país.
“É preciso buscar superar feridas que ficaram expostas por causa das prévias que ocorreram no ano passado. É preciso buscar unidade das bancadas, fortalecer as lideranças que de fato têm voto, que têm importância histórica, que ajudaram a construir o partido”
Quais são essas lideranças? Temos nomes muito expressivos, uma dezena de ex-presidentes, o Aécio Neves que quase chegou à Presidência da República, lideranças expressivas em São Paulo, prefeitos de cidades importantes, o ex-governador Rodrigo Garcia. Temos deputados federais valiosos, estaduais, vereadores, o ex-ministro e ex-governador José Serra, o ex-senador José Aníbal, temos uma infinidade de lideranças que precisam ser apoiadas.
Algum estado ou cidade serão prioridades no ano que vem? Cito um estado em que o partido precisa voltar a existir com força, que é o Rio de Janeiro. É necessário termos candidato a prefeito na capital e em cidades importantes. E temos outros estados, que temos três excelentes governadores, ex-governadores que são lideranças em seus estados, mas têm estados em que o partido praticamente não existe. É preciso fortalecer esses estados.
O senhor tem mencionado o nome do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, para concorrer à Presidência em 2026. Nós do PSDB cometemos um equívoco histórico na eleição de 2022 em não lançar candidatura própria. Desde 1989, que foi a primeira eleição pós-redemocratização, o PSDB sempre lançou candidato: Mário Covas, Fernando Henrique, José Serra, Geraldo Alckmin, Aécio Neves. E não ter um candidato foi dramático, nefasto para o partido. Muitos de nós tivemos dificuldades regionais por não termos tido candidato a presidente. Eu defendo candidatura própria em 2026 e o Eduardo Leite é um pré-candidato natural à Presidência da República pelo PSDB.
Fora a ausência de um candidato em 2022, onde o senhor vê que o partido errou nos últimos anos? O PSDB errou em muitos momentos e acabou se afastando de uma parcela significativa do eleitorado brasileiro. Deixamos, muitas vezes, de dar opiniões em relação a temas importantes nas áreas econômica, de políticas públicas de governo. Deixamos de dar nossa opinião em relação a erros do governo anterior, erros do governo de agora. Pretendemos, modestamente, contribuir efetivamente com esse debate não contra, mas a favor do Brasil.
Muito se falava da terceira via: o eleitor que não se identifica nem com o campo petista e nem com o bolsonarista. Esse eleitor de centro, moderado, ainda pode ser conquistado? Tem muita gente se cansando dessa polarização extrema, que não leva ninguém a canto algum. As pessoas estão se cansando desse dualismo que há nessa enorme disputa de extremos e vai buscar o equilíbrio, alguém que tenha experiência, vigor, energia e, sobretudo, responsabilidade. Atributos que possam conferir segurança às pessoas, sensibilizar os eleitores e convencê-los de que há um caminho no Brasil. E estou seguro de que este caminho é o caminho do centro, da moderação, do equilíbrio, das boas práticas.
“Tem muita gente se cansando dessa polarização extrema, que não leva ninguém a canto algum. As pessoas estão se cansando desse dualismo que há nessa enorme disputa de extremos e vai buscar o equilíbrio, alguém que tenha experiência, vigor, energia e, sobretudo, responsabilidade”
Hoje o PSDB é oposição ou é independente em relação ao governo Lula? O PSDB é oposição nítida, clara, convicta. Mas não é oposição ao Brasil. Muitas vezes, o PSDB votou ou tenderá a votar em diferentes governos a favor de projetos importantes. O partido votou a favor da reforma da Previdência, a trabalhista, tributária. E, claro, vai colocar o dedo na ferida onde houver erro, onde houver possibilidade de riscos à estabilidade econômica, política, e principalmente a questão do rigor fiscal que, se não for observado, pode levar o país à bancarrota. O PSDB é oposição, fará oposição, mas jamais deixaremos de ter responsabilidade em relação ao país.
Em São Paulo, o partido teve um encolhimento de prefeitos, cooptados por outros partidos, principalmente o PL de Jair Bolsonaro e o Republicanos do governador Tarcísio de Freitas. Haverá uma força-tarefa para recuperar campo? É natural, não apenas em São Paulo, mas no país inteiro, que o governador em exercício tenha muita força por conta das verbas, do orçamento, para atrair prefeitos que muitas vezes querem aumentar sua capacidade de investimento. Em São Paulo, depois de termos governado o estado por 28 anos, é natural que houvesse esse tipo de redução em termos de municípios, mas agora, após decantadas essas alterações todas, o PSDB vai investir não apenas para manter o que tem em termos de prefeituras, mas ampliar em muitos lugares. O PSDB é um partido que modernizou o estado de São Paulo, tanto na infraestrutura, quanto na saúde, na educação, na habitação, na tecnologia. É natural que as pessoas procurem o partido pelo legado histórico de realizações também na área social.
Na capital, há uma divisão no diretório municipal. O então presidente da Eduardo Leite, inclusive, teve de nomear uma comissão provisória, que expira em abril do ano que vem. A Executiva Nacional pretende fazer algo para minimizar atritos? Vamos procurar conversar com as lideranças de São Paulo e valorizar as lideranças que efetivamente têm história, que têm legado e que têm voto. As lideranças precisam ser respeitadas e apoiadas.