Lula precisa quebrar duas escritas para vencer ainda no primeiro turno
PT não conseguiu confirmar a vitória em outras duas oportunidades em que um candidato do partido chegou nas mesmas condições no dia da votação

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chega à reta final da eleição precisando quebrar ao menos duas escritas para conseguir liquidar a eleição ainda no primeiro turno. Segundo o último Datafolha, divulgado no sábado, 1, ele tem 50% dos votos válidos, o que está no limiar do necessário: para ser eleito sem a necessidade de segunda votação, um candidato precisa ter metade dos votos mais um – como a margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, no entanto, não dá para assegurar que o petista conseguirá o seu intento.
Segundo a pesquisa, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem 36% dos votos válidos, seguido por Simone Tebet (MDB), com 6%, e Ciro Gomes (PDT), com 5%.
A primeira escrita que o ex-presidente precisa quebrar é o histórico do partido nesse tipo de situação: nas duas vezes em que um candidato do PT chegou ao dia da votação com esse percentual ele não conseguiu encerrar a disputa no primeiro turno.
Uma delas foi exatamente com Lula, em 2006, quando ele tinha a esperança de ser reeleito já no primeiro turno. Estava tão confiante que nem foi ao último debate, da TV Globo, mas acabou vendo o seu adversário do PSDB, Geraldo Alckmin – hoje seu vice pelo PSB –, levar a disputa para o segundo turno: quando as urnas foram abertas, Lula teve apenas 49% dos votos válidos.
A outra vez foi com Dilma Rousseff, em 2010. No auge da sua popularidade, com mais de 80% de aprovação, Lula escolheu a ex-ministra, neófita em disputa eleitoral, para ser a candidata a sua sucessão. Ela chegou ao dia da votação com 50% dos votos válidos, segundo o mesmo Datafolha, mas não levou: o tucano Aécio Neves cresceu na reta final e a petista fechou a conta do primeiro turno com apenas 47% dos votos válidos.
Na história da eleição presidencial pós-redemocratização, apenas Fernando Henrique Cardoso, por duas vezes, chegou ao dia da votação com mais de 50% dos votos válidos no Datafolha e conseguiu confirmar a vitória no primeiro turno. Em 1994, tinha 55% na pesquisa e conseguiu 54% nas urnas. Em 1998, os números foram, respectivamente, de 56% e 54%. Note-se que nos dois casos, o percentual que FHC tinha na última sondagem eleitoral era maior que a conta rasa dos 50% que o petista tem hoje.
Uma esperança para Lula é que ocorra o que aconteceu em 2018, quando houve um movimento intenso de voto útil entre a última pesquisa Datafolha e o que saiu das urnas. Naquela disputa, praticamente todos os candidatos, com exceção de Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PL), perderam eleitores no dia da votação: Ciro Gomes (tinha 15%, obteve 12% nas urnas), Alckmin (tinha 8%, obteve 5%), Marina Silva, da Rede (tinha 3%, obteve 1%), e Henrique Meirelles, do MDB (tinha 2%, obteve 1%).
É um movimento desse tipo que Lula espera que ocorra neste dia com Ciro e com Tebet. Apesar da pregação intensa dos últimos dias, no entanto, a campanha petista obteve até agora qualquer êxito nessa operação: tanto o pedetista quanto a emedebista apenas oscilaram na margem de erro, com o detalhe de que Tebet oscilou para cima.
A eleição de 2022 chega, portanto, ao seu primeiro turno com o mesmo grau de indefinição sobre ter ou não segundo turno que tinha em 2006 e em 2010 – nas duas, o desfecho foi ruim para o PT.
E, por fim, há uma segunda escrita a ser quebrada pelo petismo: nunca nenhum candidato do partido venceu a eleição no primeiro turno em todas as eleições que disputou desde a redemocratização, nem quando o PT estava no poder, com a máquina nas mãos e gozando de alta popularidade.
A ver o que sairá das urnas nesta eleição de 2022.
Confira a apuração do resultado das eleições 2022 aqui na Veja.