Ida de Bolsonaro para Orlando fazia parte do plano de fuga, diz PF
Relatório de indiciamento do caso da tentativa de golpe de Estado foi tornado público nesta terça-feira, 26
O relatório de indiciamento do caso da tentativa de golpe de Estado, que implicou Jair Bolsonaro e 36 aliados, afirma que a ida do ex-presidente para Orlando, nos Estados Unidos, no final de 2022, foi uma adaptação do “plano de fuga” original, feito em 2021, para a hipótese de o crime não ser consumado. Na época, uma comitiva de Bolsonaro saiu do Brasil no dia 30 de dezembro, gesto que foi interpretado como uma manobra para não ter que passar a faixa presidencial para o novo presidente, o petista Luiz Inácio Lula da Silva, como é a tradição.
“Apesar de não empregada no ano de 2021, o plano de fuga foi adaptado e utilizado no final do ano de 2022, quando a organização criminosa não obteve êxito na consumação do golpe de Estado. Conforme será descrito nos próximos tópicos, Jair Bolsonaro, após não conseguirem o apoio das Forças Armadas para consumar a ruptura institucional, saiu do país, para evitar uma possível prisão e aguardar o desfecho dos atos golpistas do dia 8 de janeiro de 2023 (‘festa da Selma’)”, diz trecho do relatório de indiciamento da PF, que veio a público nesta terça-feira, 26.
A PF traçou uma linha do tempo desde 2019 até o recente ataque às portas do STF por um homem-bomba no último dia 13, vinculando diversos acontecimentos como uma preparação para um possível golpe. De acordo com relatório de indiciamento, os investigados “planejaram um cenário de enfrentamento de Jair Bolsonaro com o Poder Judiciário” em setembro de 2021 e montaram um plano de fuga para o ex-presidente, caso o pior lhe acontecesse. O plano estava em uma apresentação de PowerPoint salva no computador de Mauro Cid, com o nome de RAFE — sigla para “Rede de Auxílio à Fuga e Evasão”.
De acordo com outro trecho da investigação, no dia 15 de dezembro de 2022 Bolsonaro teve a oportunidade de assinar a minuta do golpe de Estado, mas não teria “sentido confiança” de que havia uma adesão satisfatória dos militares para que o plano saísse do papel.
“No entanto, apesar de todas as pressões realizadas, o general Freire Gomes e a maioria do Alto-Comando do Exército mantiveram a posição institucional, não aderindo ao golpe de Estado. Tal fato não gerou confiança suficiente para o grupo criminoso avançar na consumação do ato final e, por isso, o então presidente da República Jair Bolsonaro, apesar de estar com o decreto pronto, não o assinou. Com isso, a ação clandestina para prender/executar o ministro Alexandre de Moraes ‘foi abortada'”, diz o documento.