Hoje ministro, Ciro Nogueira impediu candidatura de Bolsonaro em 2014
Em 2014, o capitão queria se lançar a presidente pelo PP, mas foi ignorado pelo então mandatário da sigla, que apoiou a reeleição de Dilma

Num raro arroubo de sinceridade, o presidente Jair Bolsonaro assumiu fazer parte do grupo político que ele tanto criticou na última campanha eleitoral: “Eu sou do Centrão, eu fui do PP metade do meu tempo”. De fato, o presidente ficou durante onze anos no partido, que é a sigla de Ciro Nogueira, escolhido de Bolsonaro para a Casa Civil. O capitão saiu de lá em 2015, quando metade da bancada da legenda virou alvo da Operação Lava Jato – Nogueira, inclusive.
Bolsonaro e seus seguidores sempre alardearam que a saída do partido porque ele não compactuava com os desvios, além da parceria do PP com os governos petistas. Até 2014, no entanto, Bolsonaro acalentava sonhos altos dentro do partido. Ele brigou feio com então presidente do PP – ele mesmo, Ciro Nogueira, porque este não queria lhe dar legenda para o capitão se lançar a à presidência da República. Na época, Bolsonaro já queria tanto concorrer ao posto que chegou a se oferecer para ser vice de Aécio Neves (PSDB) — como se sabe, isso acabou não acontecendo.
Nogueira, por sua vez, já tinha acordado com o PT o apoio do PP à reeleição de Dilma Rousseff e não queria ouvir falar da candidatura de Bolsonaro à presidência. Em entrevistas concedidas por Bolsonaro na época, o capitão se queixou de sabotagem do dirigente do PP, que não colocava o seu nome nem em pesquisas eleitorais por temor de que ele aparecesse bem colocado.
“Nossa bancada vai diminuir caso apoiem aqui a eleição da Dilma, caso deem um minuto e vinte segundos para ela. E eu continuo candidato a presidente da República e espero que o partido coloque em votação o meu nome”, disse Bolsonaro, na convenção do PP em 2014, que ignorou o seu pedido.
De 2014 para cá, muita água rolou. Bolsonaro passou por outros três partidos e hoje se encontra sem nenhum. E Ciro Nogueira, que continua sendo presidente do PP e era um dos principais senadores na blindagem a Bolsonaro na CPI da Covid, agora passou a ministro da Casa Civil, um dos postos mais importantes do governo. Como diz um dos principais mantras de Brasília, na política não existe inimigo mortal.