Relâmpago: Digital Completo a partir R$ 5,99
Imagem Blog

Maquiavel

Por José Benedito da Silva Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
A política e seus bastidores. Com Laísa Dall'Agnol, Bruno Caniato, Valmar Hupsel Filho, Isabella Alonso Panho, Heitor Mazzoco e Pedro Jordão. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

Giro na Toscana e tanque fumegante: quem é o almirante acusado de golpismo

Almir Garnier Santos teria concordado com conspiração antidemocrática, segundo delação feita pelo tenente-coronel Mauro Cesar Cid

Por Redação Atualizado em 13 Maio 2024, 21h00 - Publicado em 22 set 2023, 10h55

Apesar dos esforços das Forças Armadas para desvencilhar sua imagem dos catastróficos atos de 8 de janeiro, quando eleitores bolsonaristas depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília, novas revelações voltam a manchar a reputação dos militares sob o comando de Jair Bolsonaro. Em delação premiada à Polícia Federal, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cesar Cid, disse que o almirante Almir Garnier Santos, então comandante da Marinha, apoiou um plano de golpe de Estado e chegou a dizer ao ex-presidente que suas tropas estariam à disposição para a insurgência — a intervenção, segundo Cid, não foi adiante por falta de suporte do Exército e da Aeronáutica.

Empossado em 9 de abril de 2021, Garnier protagonizou controvérsias e desastres em quase dois anos à frente do Comando da Marinha. Um dos mais notáveis ocorreu em agosto do mesmo ano, quando organizou às pressas um desfile de tanques pela Esplanada dos Ministérios e em frente ao Palácio do Planalto, na mesma data em que o Congresso votava um projeto apoiado por Bolsonaro que reinstituiria o voto impresso nas eleições brasileiras — o comandante justificou a exibição como uma “coincidência de datas” com a Operação Formosa, exercício militar anual no município goianense, mas o ato foi interpretado como uma clara tentativa de intimidação contra os parlamentares. O tiro, no entanto, saiu pela culatra — durante a passagem, os tanques apresentaram defeito e começaram a fumegar, transformando a demonstração de força em um espetáculo que passou uma imagem de decadência.

Defile_Forcas_Armadas_Tanque_Palacio_Planaltp_Foumaça_Fogareu_OrlandoBrito.jpg
Tanque solta fumaça em frente ao Palácio do Planalto durante desfile militar promovido pela Marinha no mesmo dia em que o Congresso votava PEC sobre o voto impresso (Orlando Brito/.)

No ano seguinte, Garnier também repercutiu negativamente entre as Forças Armadas ao viajar com a esposa e convidados à Itália para uma cerimônia militar — ao contrário dos colegas do Exército e da Aeronáutica, contudo, ele dispensou o voo comercial e usou um jato da Força Aérea Brasileira (FAB). Após três dias na Toscana, a aeronave rumou com o comandante a bordo para a Turquia, onde ficou por quatro dias para uma suposta missão oficial, e ainda parou por um dia em Portugal antes de retornar ao Brasil.

Em novembro de 2022, após ser derrotado nas urnas, Bolsonaro convocou Garnier e os outros dois chefes das Forças Armadas — Marco Antônio Freire Gomes, do Exército, e Carlos de Almeida Baptista Júnior, da Aeronáutica — para uma reunião no Planalto, onde discutiram as manifestações de bolsonaristas em frente aos quartéis convocando uma intervenção militar no país. O resultado do encontro foi um documento em que os três comandantes não apenas se abstiveram de repudiar os protestos, como também reafirmaram seu “compromisso irrestrito e inabalável com o povo brasileiro” e defenderam o direito “à livre manifestação do pensamento”.

Continua após a publicidade
Giro na Toscana e tanque fumegante: quem é o almirante acusado de golpismo
Garnier, o então presidente Jair Bolsonaro e o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, em desfile do Dia da Independência, em Brasília (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Em 5 de janeiro deste ano, o almirante aproveitou seu último dia no cargo para causar um novo constrangimento: não compareceu à posse de Marcos Sampaio Olsen, seu sucessor nomeado por Lula, algo inédito na história brasileira. A quebra de protocolo continua até hoje com o perfil pessoal de Garnier no Instagram — criado em maio de 2021 como “Comandante MB”, prática incomum, que gerou desconforto entre militares, a conta trocou de nome para “Almirante Garnier” em 1º de janeiro de 2023, mas manteve o nome de usuário “comandante.mb”. Desde 19 de agosto, o ex-comandante está calado na rede social.

Currículo

O almirante de esquadra (quatro estrelas) Almir Garnier Santos é carioca, tem 62 anos e era secretário-geral do Ministério da Defesa antes de assumir o Comando da Marinha, por escolha de Bolsonaro, em abril de 2021. Ele está na Marinha há 45 anos. Ingressou na Escola Naval em 1978 e concluiu o curso de formação de oficial em 1981, como primeiro colocado no Corpo da Armada.

Continua após a publicidade

Também realizou os cursos da carreira militar e ainda concluiu mestrado em pesquisa operacional e análise de sistemas na Naval Postgraduate School (NPS), nos Estados Unidos, e MBA em gestão internacional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Ao longo da carreira, Garnier serviu em embarcações como as fragatas Independência e União e o Navio-Escola Brasil. Também comandou o navio de apoio logístico Almirante Gastão Motta e a Escola de Guerra Naval e o 2º Distrito Naval.

Repercussão

Na quinta-feira, 21, ao ser questionado sobre se Garnier tinha inclinação golpista, o ministro da Defesa, José Múcio, disse que “sabia, mas ele passou”. “Olha, ele não me recebeu para conversar. Depois, nós nos encontramos, eu conversei”, afirmou o ministro sobre a transição de governo. “Era uma posição pessoal. Havia um presidente eleito, havia um presidente empossado, a Justiça promulgou, de maneira que nós estávamos 100% do lado da lei, e ele não”, completou.

Continua após a publicidade

No mesmo dia, a Marinha do Brasil afirmou em nota que “eventuais atos e opiniões individuais não representam o posicionamento oficial da Força” e que se coloca “à disposição da Justiça para contribuir integralmente com as investigações” sobre a conduta de seu ex-comandante.

“A Marinha do Brasil reitera, ainda, que eventuais atos e opiniões individuais não representam o posicionamento oficial da Força e que permanece à disposição da Justiça para contribuir integralmente com as investigações”, diz trecho da nota.

No documento, a Marinha também reforça a sua missão constitucional e seu compromisso com a sociedade e afirma que “pauta sua conduta pela fiel observância da legislação, valores éticos e transparência”.

 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 5,99/mês
DIA DAS MÃES

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.