Em almoço com advogados, Gilmar faz piada com Moro e critica a Lava-Jato
Ministro diz que elogiou Paulo Guedes por ter levado o juiz para o governo; "Ter tirado Moro de Curitiba talvez tenha sido sua maior contribuição ao Brasil

Crítico antigo dos métodos e dos integrantes da Lava-Jato, o ministro Gilmar Mendes, decano do Supremo Tribunal Federal (STF), voltou à carga contra a operação nesta segunda-feira, 28, em almoço no IASP (Instituto dos Advogados de São Paulo), em São Paulo.
Bem-humorado, o ministro divertiu ao lembrar um episódio, quando recebeu o então ministro da Economia, Paulo Guedes, ainda no governo Jair Bolsonaro, e disse a ele que havia sugerido ao então presidente que encontrasse alguém para “cuidar de ‘law and order’ no governo”, em referência à necessidade de um nome para o Ministério da Justiça. “O ex-presidente deve ter ficado perplexo”, disse Gilmar.
Depois que o ex-juiz federal Sergio Moro — hoje senador pelo União Brasil-PR — assumiu a pasta, Gilmar deu uma espécie de “conselho” a Guedes. “Ponha isso na sua biografia: ter tirado Moro de Curitiba talvez tenha sido sua maior contribuição ao Brasil”, afirmou, em meio a risos da plateia. Na época, o guru da economia de Bolsonaro foi apontado como responsável pelo convite a Moro para ir para a Esplanada.
Moro atuou como juiz titular da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, que reunia os processos da Lava-Jato. Já se especulava sobre uma possível migração do magistrado para o mundo da política, mas ele só se exonerou oficialmente da magistratura quando recebeu o convite de Bolsonaro para assumir o Ministério da Justiça — cadeira que ele deixou menos de dois anos depois, por conta de discordâncias com o ex-presidente.
O ex-magistrado e o ministro do Supremo são desafetos de longa data. Os dois já trocaram farpas em público muitas vezes por conta da operação. O ministro move uma ação criminal contra o hoje senador pelo União Brasil-PR por conta de um vídeo, gravado durante uma festa junina, no qual Moro brinca sobre a possibilidade de “comprar” um habeas corpus de Gilmar Mendes.
‘O Moro do Rio de Janeiro, a Moro do Pantanal’
Durante o almoço, Gilmar Mendes fez várias críticas à operação. “Uma investigação normal de corrupção se transforma em algo avassalador e todos os episódios da política passam a ser enquadrados dentro de algum artigo do Código Penal. Isso destrói o sistema político”, disse o ministro.
Instantes depois, ele relembrou quando foi convidado para ir ao Congresso debater a iniciativa que ficou conhecida como as “Dez medidas contra a corrupção”, impulsionada pelos lavajatistas. “Foram surgindo filhotes, o Moro do Rio de Janeiro (Marcelo Bretas), a Mora do Pantanal (Selma Arruda), e essa gente foi ocupando o lugar da política. Ele (Moro) podia ter sido eleito presidente, mas eles decidiram unir forças com Bolsonaro”, disse Gilmar.
Apesar de os processos mais importantes da Lava-Jato terem sido anulados pelo STF, como os que envolveram o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na semana passada, os desdobramentos de uma investigação da operação levou à prisão o ex-presidente Fernando Collor de Mello, acusado de se beneficiar de um esquema de corrupção envolvendo a BR Distribuidora.