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Do RJ ao Nordeste: como a geografia da violência mudou em cinco anos

Avanço de faccões em busca de novos territórios e rotas para o tráfico de drogas colocou Bahia, Pernambuco e Ceará no topo do ranking de assassinatos

Por Da Redação 8 jun 2024, 09h27

O espraiamento das facções criminosas pelo país, em busca da consolidação de novos territórios e novas rotas para o tráfico internacional de drogas, aliado às dificuldades enfrentadas pelos governos locais, provocou ao menos uma mudança importante na geografia da violência no país em 2024: pela primeira vez desde 2020, quando o Ministério da Justiça passou a consolidar os dados estaduais, três estados do Nordeste estão no topo do ranking dos assassinatos no país.

Como mostra reportagem de VEJA na edição desta semana, entre janeiro e abril deste ano, Bahia, Pernambuco e Ceará nesta ordem, registraram mais homicídios em números absolutos do que localidades mais populosas como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Foi também a primeira vez que o Rio de Janeiro não figurou entre os “top 3” dos estados mais violentos do país.

Veja abaixo o ranking dos três estados com mais vítimas de homicídios nos quatro primeiros meses de cada ano.

2020

  1. Bahia: 1.944
  2. Rio de Janeiro: 1.495
  3. Ceará: 1.482

2021

  1. Bahia: 1.941
  2. Rio de Janeiro: 1.320
  3. Ceará: 1.050

2022

  1. Bahia: 1.712
  2. Pernambuco: 1.176
  3. Rio de Janeiro: 1.119

2023

  1. Bahia: 1.647
  2. Rio de Janeiro: 1.307
  3. Pernambuco: 1.116

2024

  1. Bahia: 1.488
  2. Pernambuco: 1.250
  3. Ceará: 1.106

A violência extrema no Nordeste não se resume a Bahia, Pernambuco e Ceará. A região concentra quase a metade de todas as vítimas de assassinatos no país. Quando o ranking de homicídios é feito levando-se em consideração a taxa de vítimas por 100 mil habitantes, o cenário é ainda mais desolador. Sete dos dez estados mais violentos são do Nordeste — os outros três são da região Norte. (veja quadro abaixo).

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(Infografia/VEJA)

Facções estendem seus tentáculos pelo Nordeste

O Nordeste está sendo impactado principalmente pela expansão do narcotráfico, em especial de duas facções criminosas: o Comando Vermelho, que tem origem no Rio de Janeiro, e o Primeiro Comando da Capital (PCC), oriundo de São Paulo, que buscam postos-chave para a exportação de cocaína para Europa e África, como as zonas portuárias de Salvador e Aratu (BA), Mucuripe (CE) e Recife e Suape (PE).

Nas últimas quatro décadas, esses dois grupos dominaram periferias do Rio e São Paulo e estenderam seus tentáculos para outros estados por meio de disputas territoriais sangrentas. “Diversos estados do Nordeste tornaram-se rotas estratégicas para o escoamento da produção de drogas vindas dos países andinos”, diz José Luiz Ratton, coordenador do Núcleo de Estudos em Criminalidade, Violência e Políticas Públicas de Segurança da UFPE e pesquisador da Fiocruz Pernambuco.

A alta de mortes é reflexo de um narcotráfico fragmentado em grupos locais, que vêm firmando alianças com o CV e o PCC e travando confrontos cada vez mais frequentes. Um exemplo é o Bonde do Maluco, gangue formada em 2015 na Bahia, que se aliou ao PCC e hoje é considerada uma das organizações mais perigosas do país. As operações armadas são comandadas dos presídios, onde as condições precárias criam ambientes ideais para o recrutamento de novos “soldados” pelo crime organizado.

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SOB PRESSÃO - Raquel Lyra: insatisfação nas forças de segurança
SOB PRESSÃO - Raquel Lyra: em seu primeiro mandato à frente de Pernambuco, governadora tenta conter os altos índices de violência no estado (Miva Filho/Secom/.)

Impacto político

Essa dificuldade no controle da criminalidade se tornou um problema político para os governadores da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB) e do Ceará, Elmano de Freitas (PT), que devem buscar a reeleição em 2026. O quadro pode influenciar também o desempenho de seus aliados também na eleição municipal deste ano.

 

 

 

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