Do Norte ao Sul: os portos usados pelo PCC para levar cocaína à Europa
Rotas internacionais mudam constantemente para burlar fiscalização e polícias, mas meios de tirar o entorpecente do Brasil são menos variados
O crime organizado brasileiro encontrou uma atividade bastante rentável no tráfico internacional de cocaína, entorpecente que oferta as maiores margens de lucro do mercado de substâncias ilícitas. O maior grupo criminoso do país, o Primeiro Comando da Capital (PCC), fez alianças com máfias europeias, que terceirizam aos brasileiros o trabalho logístico de levar a cocaína produzida na Colômbia, no Peru e na Bolívia para o continente europeu, maior consumidor do mundo.
Para esse trabalho acontecer, o tráfico usa rotas que estão em constante modificação. Reportagem publicada na edição nº 2.898 de VEJA mostra que máfias brasileiras têm voltado a explorar rotas de entrada na Europa por países do Leste Europeu, fortalecendo alianças com grupos criminosos da Albânia e da Sérvia, que fazem o “trabalho sujo” que não interessa mais às tradicionais máfias italianas, como a calabresa ‘Ndrangheta.
No entanto, para a droga sair do Brasil, a diversidade de opções usada pelo PCC é menor. O mais tradicional e mais visado caminho para a exportação de cocaína continua sendo o Porto de Santos, no litoral paulista, de onde a droga sai por contêineres embarcados em navios. “O Brasil atua como um entreposto que distribui drogas para outros continentes. Além de Santos, também usa-se o Porto de Paranaguá. Depois, vem Belém, Salvador e Rio de Janeiro”, afirma a pesquisadora Isabela Vianna Pinho, doutoranda em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos.
Um estudo publicado por ela e outros pesquisadores constatou que, de 2016 a 2022, foram apreendidas 15,8 toneladas de cocaína no Porto de Santos. Também há registros, minoritários, de apreensões de quantidades grandes da mesma droga em portos de Santa Catarina, como Navegantes e Tubarão.
Depois da pandemia, houve uma expansão do tráfico de drogas que opera em larga escala — as operações de envio de entorpecentes são menos frequentes, mas levam quantidades maiores de cocaína de uma vez só. Além disso, o tráfico internacional usufrui de mais recursos e consegue estruturar uma rede operacional mais sofisticada, pois “precisa de infraestrutura e logística integradas para buscar fornecedores“, explica a pesquisadora.