‘Devemos separar joio do trigo’, diz Múcio sobre militares no 8 de Janeiro
Em evento em São Paulo, ministro da Defesa defendeu ainda a aprovação de um orçamento obrigatório para as Forças Armadas

O ministro da Defesa, José Múcio, defendeu nesta segunda-feira, 5, que o envolvimento de militares na trama golpista do 8 de Janeiro seja apurado e disse que é preciso separar “o joio do trigo” nas Forças Armadas.
“A nós, interessa que tudo seja absolutamente esclarecido, tudo (…). Para poder separar o joio do trigo. Para saber diferenciar quem comprometeu o nome das instituições com a história do país, daqueles que verdadeiramente defendem diuturnamente o trabalho que fazem pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica”, afirmou durante almoço com empresários do Lide, do empresário João Doria, em São Paulo.
Múcio participou do encontro acompanhado de três comandantes das Forças Armadas: os comandantes da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, da Aeronáutica, brigadeiro Marcelo Damasceno, e o chefe do Estado-Maior do Exército, general Richard Nunes.
O ministro elogiou o trabalho feito pelas instituições que representam as forças de defesa do país — o qual, disse, vive um período de “muita polarização” — e alfinetou políticos que vivem em função apenas do mandato. “Hoje, precisamos creditar a eles, às três Forças, o que nós somos (…). Enquanto alguns detentores de mandato, que a cada quatro, às vezes oito, doze, dezesseis anos, se arvoram na renovação de mandato, esses homens passam cinquenta anos estudando diuturnamente, servindo todos os dias ao país. Eles não trabalham para mandato, não trabalham para eleições. Eles trabalham para gerações”, disse Múcio.
Questionado sobre o início do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), nesta semana, do chamado núcleo 4 — grupo formado por militares — da trama golpista que teria ocorrido durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, Múcio afirmou que o sentimento é de “constrangimento” e, ao mesmo tempo, de desejo de resgate da “normalidade”.
“Um colega militar seu ser indiciado, o primeiro sentimento é de constrangimento (…). O segundo sentimento, quando há comprovação, é o de indignação. Porque eles comprometeram a imagem de uma instituição que sabem que tem que ser preservada. Nós torcemos para que tudo isso passe, para que possamos voltar ao nosso sentimento de normalidade, e que possamos trabalhar sem a áurea, sem a nuvem de suspeição que atinge a muitos, mas que só alguns poucos são os responsáveis”, declarou.
José Múcio disse, ainda, que as Forças Armadas respeitarão a decisão que for tomada a respeito da anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de Janeiro. Atualmente, o projeto que trata sobre o tema já tem o apoio necessário para tramitar em regime de urgência na Câmara, mas tem enfrentado resistência do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB). “O projeto de anistia é uma decisão de um poder, que é o poder Legislativo. Nós respeitamos os poderes. O que a Justiça decidir, o que o Legislativo decidir, nós respeitamos”, disse.
Orçamento da Defesa
Durante o almoço, Múcio e os chefes da Marinha, Aeronáutica e Exército defenderam a necessidade de aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Previsibilidade, que garantiria um orçamento obrigatório às Forças Armadas. “A nossa grande luta nós estamos travando agora. Que aprovemos a PEC da Previsibilidade. O Brasil precisa ter um percentual para investir em Defesa, como investe em Saúde e Educação, independente de vontades e de projetos pessoais ou partidários”, disse o ministro da Defesa.
Segundo Múcio, o ministério irá propor um investimento de 2% obrigatórios da receita corrente líquida nacional (RCL), com crescimento de 0,1% ao ano, de forma a não comprometer os recursos destinados a outras áreas.